Bailarina plus size: Morango se recuperou do câncer e superou o preconceito virando referência | JuRRo Entrevista

“O corpo alcança o que a mente acredita”, clichê, porém verdade. Se recuperar de diversos problemas de saúde ainda muito nova fez com que a bailarina plus size Thainá Morango (@thaiimorango) passasse a se enxergar de outro jeito e descobrisse que as limitações somos nós que impomos ao nosso corpo, e não o contrário.

Aos 25 anos,  Morango já dançou ao lado da Anitta, Pablo Vittar, Preta Gil e Tiago Abravanel e é referência como bailarina plus size. Ela é prova de que você não precisa ter pernas finas, corpo esguio e pouco peso na balança para ter toda a leveza e graciosidade que uma bailarina precisa.

bailarina plus size morango 4Foto: Adriana Líbini

O caminho não foi fácil. Morango passou por maus bocados, fez loucuras para emagrecer e chegou até mesmo a desistir do sonho da dança por conta do preconceito em relação a seu corpo. Mas ao escolher qual faculdade cursar não teve dúvidas na alternativa: bacharelado em dança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O que poderia ter sido um grande pesadelo acabou colocando Morango de volta no caminho da dança e culminou nesse exemplo de bailarina plus size que temos como inspiração hoje.

Na entrevista a seguir Thainá Morango conta como foi o processo para se tornar uma bailarina plus size referência e dá forças para quem quer seguir um sonho que parece impossível por causa do corpo.

♥ Bailarina plus size: como Morango superou o preconceito e se tornou referência 

1. Você já chegou a desistir da dança, por quê? 

Eu desisti da dança porque tive uns problemas dentro e fora da escola. Comecei a tomar remédios para emagrecer para chegar ao corpo exigido pelos professores de dança e tive uma série de complicações de saúde por conta disso. Tomei remédios e emagreci horrores, porque dançar era meu sonho e eu queria estar nos palcos. Nessa época que emagreci, ganhei diversas premiações, viajei pela dança e fiz tudo que eu queria, mas foi ruim porque prejudiquei minha saúde: tive uma infecção urinária que se complicou e eu quase morri por causa disso.  Demorei um ano para me recuperar, foi uma experiência muito ruim e eu falei “não quero mais dançar, não quero, não quero…”

2. Você parou de dançar mesmo ou só desistiu temporariamente por causa desse momento traumático?

Eu tinha parado mesmo. Eu queria uma atividade física, mas a dança ainda mexia muito comigo devido aos traumas. Fui pra luta, taekwondo. Cheguei a pegar a faixa azul e competir em diversos campeonatos. Sou campeã brasileira, paulista, carioca e outros títulos.

 

3. Quando você voltou a dançar? O que te deu forças para encarar o preconceito dessa segunda vez?

Eu voltei a dançar quando fui aprovada para cursar bacharelado em dança na UFRJ. Eu fui sem pensar muito. Era meu sonho cursar dança na Federal. Quando fui aprovada eu esqueci dessa questão. Só me lembrei dela ao cruzar os corredores da Universidade e ver corpos magros. Eles me receberam bem, mas na minha cabeça eles me olhavam torto. Foi um longo processo até eu aceitar e me aceitar.

4. Quando você descobriu o câncer? Como foi esse momento pra você? 

Eu estava no terceiro período da faculdade quando descobri o câncer na tireóide. Na época eu estava mega feliz, havia acabado de dançar no Criança Esperança com a Anitta, estavam surgindo trabalhos, eu estava super bem e daí veio isso. Eu estava engordando muito e sem explicação. Daí fui procurar o médico e ele me encaminhou ao endocrinologista, que examinou minha tireoide e viu três nódulos. Meu mundo caiu. Eu não aceitei, chorei, me isolei, me afastei de todos. Fiquei 1 semana trancada em casa só chorando. Mal atendia aos telefonemas dos meus pais e questionando Deus.  Depois que sequei a represa, fui voltando a minha rotina aos poucos.

bailarina plus size morango 3Foto: Adriana Líbini

5. Como ser uma bailarina plus size ajudou você a passar pelo tratamento do câncer?

Usei a dança pra esquecer meu problema e me entregar a algo que me deixasse cansada, tirasse minhas forças, que me fizesse chegar em casa tomar banho e dormir. Sem pensar em mais nada. Fiz isso durante meses.

6. As pessoas ainda falam que você não pode ser bailarina plus size? Como você encara as pessoas que falam que você jamais será uma bailarina como as outras por causa do seu corpo?

Falam. Meu insta sofreu um ataque de haters há pouco tempo. Após uma foto minha ser divulgada em um perfil de bailarinos “padrão” os seguidores me chamavam de “ofensa para o ballet”, “nojenta”, que eu estava arrumando um jeito de quebrar meus dedos e outras inúmeras coisas. Eles marcavam uns aos outros e fizeram um inferno naquela semana.

As vezes eu nem leio os comentários. Quando vejo que é maldade, eu pulo. Vou pro próximo. Eu tento não me abalar. Mas fico chateada porque algumas seguidoras sofrem e me mandam mensagem querendo até mesmo desistir. E algumas são magras e se enxergam gordas.

bailarina plus size morango 2Foto: Adriana Líbini

7. Ainda tem movimentos que você não consegue fazer por ser bailarina plus size? Por quê? O corpo plus size limita um pouco a dança, como em pegadas a dois, ou isso é só uma lenda?

Alguns eu não faço ‘ainda’ por falta de prática. Acredito que se eu me dedicar mais eu farei. Em pas-de-deux a pegada fica mais complicada por conta do peso que dobra, triplica, para o bailarino. Mas com técnica e muito ensaio algumas coisas podem sair. Inclusive vou montar um duo com um bailarino do Teatro Municipal e vamos ver do que seremos capazes.

Quero integrar o corpo de baile de algum programa, mas não quero ser a diferente, não quero ter destaque pelo meu corpo diferente. Quero estar no meio das magras, dançar com as que são padrão, estar ali pelo meu talento e trabalho e não pela minha forma física.Thainá Morango, dançarina

8. Você sente que tem espaço para dançarinas plus size? Ou você continua a sofrer preconceitos em audiências e testes?

Estamos conquistando espaço. Quero integrar o corpo de baile de algum programa, mas não quero ser a diferente, não quero ter destaque pelo meu corpo diferente. Quero estar no meio das magras, dançar com as que são padrão, estar ali pelo meu talento e trabalho e não pela minha forma física. Ainda tem muito preconceito. Sobretudo quando uma audição é pedida via e-mail, com uma fotografia corpo inteiro e não um vídeo dançando. Você é julgada pelo estereótipo e não pela técnica.

bailarina plus size morango 1Foto: Adriana Líbini

9. Depois de se recuperar de um câncer e ganhar uma segunda chance de viver, como você encara as “limitações” que as pessoas se colocam por causa do formato do corpo?

Eu ganhei muita maturidade e aprendi a lidar melhor com a vida e os obstáculos dados por ela. Hoje não é qualquer coisa que me abala, e eu tento trazer essa mensagem. O número da balança é apenas um número, e se seu corpo esta saudável, exames em dia, porque não dar a volta e sair do comodismo? Minha luta é para que as pessoas façam o que tenham vontade. Parar de problematizar tudo ou se achar incapaz por conta do biotipo. Só quem pode me parar sou eu mesma, e muitas pessoas se param, não precisa nem chegar outro pra apontar e dizer a ela que ela é incapaz porque ela já esta estacionada na cama se lamentando.


 

Hoje Morango faz parte do grupo Ballet Plus Size e, além da faculdade e das aulas na In’Cena Cia de Dança, dá workshops e tem projetos de dança, em que sempre procura pessoas de fora para dançar junto e dar oportunidade a quem não teve. Para saber mais sobre essa linda bailarina plus size, siga ela no instagram @thaiimorango e assista esse vídeo emocionante de uma entrevista recente a um site britânico. Aperta o play:

 

 

“Você é gorda, não pode fazer isso”… “Você tem potencial, mas precisa emagrecer”… “Se daria super bem se perdesse uns quilinhos”… “Você jamais poderá seguir com isso, você não tem corpo”. Que mulher nunca ouviu uma dessas frases em algum momento da vida, seja quando compartilhou um sonho ou quando pediu uma opinião sobre uma carreira desejada, não é?!  E quantas de nós já não desistimos de nossas vontades por acreditarmos que não seríamos boas o suficiente para sermos bem sucedidas em alguma área? Então toda vez que você duvidar do seu potencial ou duvidarem de você, lembre-se da história da Morango e saiba que TUDO É POSSÍVEL com garra, persistência, treino e muito amor!

 

Além da Morango, vemos pipocar uma ou outra bailarina plus size em vídeos virais por aí, além é claro da MARAVILHOSA Mari Xavier que está levando nossas curvar para requebrarem no Dança dos Famosos… Mas isso eu conto em outro post mais pra frente, com uma lista de inspirações da dança pra você… Você quer? Me conta aqui nos comentários e compartilha com as amigas pra inspirar todo mundo! 

 

 

HUA HUA

BJÓN

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