O padrão de beleza tóxico também está no plus size | Bernardo Fala

Se você acompanha o meio plus size, deve ter visto o post que a modelo Mayara Russi fez recentemente no Facebook. No relato, Mayara conta estar fazendo dieta para tentar chegar ao número 46. O motivo: mesmo sendo uma modelo bastante reconhecida no meio plus size e vestindo número 52, não consegue tanto trabalho quanto suas amigas mais magras.

Que um padrão de beleza existe na moda “regular”, a gente já sabe. Todo dia, modelos são obrigadas a emagrecer e atingir corpos cada vez mais irreais para desfilar nas maiores passarelas do mundo. A mensagem para a população é clara: só a magreza é bonita. Roupas são feitas para corpos magros. Quanto mais gorda, menos você se encaixa, menos opções você tem. Até o momento que você chega ali nos 42 e se torna praticamente invisível.

O mercado plus size, supostamente, teria nascido como resposta a essa exclusão: marcas que começam a suprir uma demanda de roupas para pessoas que não querem passar a vida inteira se odiando ou buscando um corpo que não é o seu. O problema é que, tanto as marcas “regulares” quanto as marcas plus size, convivem dentro do mesma cultura, dentro do mesmo padrão de beleza, e acabam se deixando influenciar por ele, por diversos motivos. Com isso, mesmo com toda a proposta de vestir pessoas que ultrapassam o número 46, é ainda comum vermos marcas que reproduzem a pressão estética da magreza até dentro das grades maiores, excluindo modelos que não sejam “quase magros” – ou tenham características de corpos magros como cintura fina e barriga chapada.

Sem perceber o tamanho da hipocrisia, essas marcas fazem corpos gordos serem constantemente apagados, invisibilizados, dando lugar exclusivamente àqueles que podemos chamar de “fora do padrão de beleza porém esteticamente aceitável”, pessoas que ultrapassam a grade “regular”, mas que também não são vistas como gordas pela sociedade.

E por que isso acontece? Porque o corpo gordo ainda é visto por grande parte da população como algo a ser escondido, excluído, e pior, combatido. Por visão estratégica, muitas marcas não querem enfiar o dedo nesse vespeiro. Querem aproveitar o mercado sem entrar de cabeça na briga do body positive. Querem explorar o setor aquecido plus size sem realmente exaltar um corpo que ainda não é visto com bons olhos pela sociedade. No final das contas, não estão interessadas em fazer grandes mudanças de cultura, ou de usar seu poder para incluir cada vez mais pessoas na moda e fazê-las se sentirem bonitas ou felizes. Essas marcas só estão interessadas no seu bolso. 

[blockquote author=”” ]”Não adianta ser body positive só quem com a sociedade já acha bonitinho ou aceitável. Ser body positive é exaltar o corpo em todas as suas formas”[/blockquote]

Não adianta ser body positive só quem com a sociedade já acha bonitinho ou aceitável. Ser body positive é exaltar o corpo em todas as suas formas. É bater de frente com a ditadura da magreza e dizer que todo corpo é bonito sim. Que todo mundo merece respeito e o direito de se sentir bem vestindo o que gosta. E não adianta dizer que “é só uma roupa”. Dar o direito de uma pessoa se sentir bem com o corpo que tem é muito mais que “só uma roupa”. É sair dessa posição de marca que só “aproveita uma demanda”, pra entrar na visão do negócio que trabalha em prol da sociedade e da construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Não adianta tentar fugir: vender é um ato político, consumir é um ato político.<

Toda vez que você compra algo, não adquire só um produto ou um serviço. Você diz para a sociedade que você quer ver mais daquilo no mundo. Que você concorda com aquela empresa e que você acha que ela deve ser um modelo a ser seguido. Por isso, da próxima vez que você encontrar mais uma dessas marcas fazendo “coleção plus size” sem colocar ninguém gordo nas fotos, lembre-se disso. Pra ela, você, pessoa gorda, continua sendo feia. Mas uma feia com dinheiro.


Compre de quem te exalta, não de quem te explora. Assim, não só pessoas gordas vão ter cada vez mais espaço na mídia, na moda e no imaginário das pessoas. Mas também, vão ter o direito de serem tratadas como qualquer outra pessoa. Pessoas como a Mayara não vão precisar modificar seu corpo para conseguir trabalho. Pessoas como você, pessoa gorda, que vai poder ser ainda mais feliz com seu corpo, tendo a certeza de que você, independente do seu tamanho, também é linda e merece ser representada.

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