Gordofobia no trabalho e direitos na maternidade

Semana passada Michelle Sampaio, jornalista e repórter da Rede Vanguarda, comunicou em seu Instagram pessoal o desligamento da emissora. Ela publicou um vídeo em agradecimento aos seus colegas de trabalho e um desabafo explicando o motivo pelo qual foi demitida, seu peso.

Michelle disse que a emissora a demitiu por não voltar ao peso que tinha antes da sua gestação. Durante um período até foi afastada do vídeo e passou a trabalhar nos bastidores, o que não evitou seu desligamento. Leia o post completo de Michelle aqui!

Este simples desabafo tomou força na internet, pois muitos se identificaram com o caso de gordofobia no trabalho de Michelle. Hoje o post tem mais de 439 mil visualizações e mais de 8 mil e curtidas no Instagram. O que nos leva a pensar que tais situações acontecem com muito mais frequência do que imaginamos.

Gordofobia no ambiente de trabalho

O que aconteceu com Michelle acontece diariamente na vida de muitas pessoas. Na maioria dos casos, mulheres. O reflexo da sociedade em que vivemos se estende em todos os ambientes nos quais estamos inseridos. Me questiono se isso aconteceria no caso de um homem. Você acha que essa pressão estética atingira de forma tão dura um apresentador?

Temos muitos exemplos na televisão mesmo, de âncoras gordos que estão ou ficaram no ar mesmo estando fora do tal “padrão estético”. Faustão, André Marques, Zeca Camargo e Jô Soares,  são só alguns exemplos de homens que variaram o peso durante a carreira e nunca foram banidos do vídeo por isso.

A Ju teve a oportunidade de conversar com a Michelle e postou um vídeo no seu canal falando sobre gordofobia no ambiente de trabalho.

Numa simples busca na internet você encontra vários casos sobre  gordofobia no trabalho.  Inclusive, e o mais preocupante: em profissões onde a aparência física não influencia em nada na realização das tarefas.

Há dois anos também fiz um vídeo falando sobre esse assunto mostrando depoimentos reais de mulheres que passaram por essa situação. Se quiser assistir, clique aqui!

Todo profissional deve ser avaliado pela capacidade de exercer a função pelo qual foi contratado. Existem algumas profissões que exigem padrões físicos, como modelo por exemplo. Porém se você se sentir discriminada, prejudicada ou se sentir inferiorizada no seu ambiente de trabalho devido à sua aparência física, você pode entrar com processo de assédio moral contra a empresa.

Como identificar e o que fazer?

Agora vamos identificar aqui o que caracteriza o assédio moral e o que podemos fazer em relação à isso no ambiente de trabalho.

Piadinhas, indiretas, bilhetinhos, existem muitas variáveis, mas todas que tenham como consequência efeitos na diminuição da autoestima de quem sofre – e vale deixar claro é que a pessoa gorda tem os mesmos direitos que qualquer cidadão.

Antes de entrar com um processo jurídico é preciso comprovar que você sofre discriminação no trabalho.
Segunda a advogada Rayne Souza, você pode apresentar como prova, gravações por exemplo. A lei permite que você grave, desde que você seja  a vítima. Outras evidências que você pode apresentar são emails, que possam representar piadas ou constrangimento, testemunhas, reclamações registradas no RH, entre outros.

Nenhuma empresa pode determinar, colocar como regra ou obrigatoriedade um certo peso ou imagem. Isso fere a dignidade da pessoa humana e é inconstitucional“, diz Rayane.

Por isso após comprovada a discriminação o funcionário pode pedir a rescisão do contrato e danos morais. E para isso primeiro você deverá realizar a denúncia ao Ministério do Trabalho ou Ministério Público do Trabalho, procurar o sindicato e um advogado do trabalho.

Direitos trabalhistas para as mães

Quanto às mães, existem direitos específicos que as asseguram.  Direitos que muitas vezes não são conhecidos, por isso vamos falar sobre alguns deles aqui.

Estabilidade

Desde a descoberta da gravidez até o quinto mês após o parto a funcionária não pode ser demitida. E isso também é valido para o período de experiência e aviso prévio. Mães que adotaram também têm esse direito.

Ausência para exames e consultas

A gestante tem direito a se ausentar do trabalho para pelo menos seis consultas ou exames.  A funcionária deve apresentar o atestado médico sempre que se ausentar para consultas do pré-natal.
Já no caso de mães que adotaram a CLT não tem uma cláusula específica, por isso deve ser tratado caso a caso.

Licença Maternidade

A gestante tem a opção de escolher quando quer tirar a licença maternidade, porém a partir da 36ª semana, qualquer afastamento da gestante determinará o início da licença maternidade.

Mulheres que engravidam no período de aviso prévio também tem direito a licença maternidade.

A lei também assegura a mãe o recebimento de salário maternidade que é pago pela Previdência Social.  Caso houver comissões, por exemplo,  a gestante deve receber o valor de acordo com a média dos últimos seis meses. Mães adotantes têm os mesmos direitos

Projeto de lei para prematuros

Foi aprovado pela câmara dos deputados no fim de março um projeto de lei que prevê que a mulher possa ficar mais tempo afastada do trabalho caso o recém nascido fique mais de 3 dias na UTI e também prorroga o salário-maternidade nesses casos. 


Precisamos reivindicar nossos direitos como cidadãos. Independentemente de peso, cor, cultura, religião e etc. Espero que este post ajude a esclarecer algumas dúvidas, que sejamos respeitados como cidadãos trabalhadores e que casos como os da Michelle aconteçam cada vez menos.

Um beijo! Outro beijo,

Mari

7 momentos do dia a dia que você sofre discriminação por ser gorda

discriminação
dis.cri.mi.na.ção
sf (lat discriminatione) 1 Ato de discriminar. 2 O que se acha discriminado. 3Psicol Processo pelo qual dois estímulos que diferem em algum aspecto resultam em reações diferentes.

discriminatório
dis.cri.mi.na.tó.rio
adj (discriminar+tório) Que implica ou que estabelece discriminação.

 

Pois veja bem, esse é apenas um post de desabafo. Passo por algumas (várias) situações no meu dia que parecem simples e corriqueiras, mas fazem questão de me lembrar que eu não me encaixo na sociedade. Seja no metrô, no trabalho ou apenas indo me divertir na balada, não dá apenas para esquecer que eu sou gorda por um dia. E não é que eu queira esquecer que eu sou gorda porque eu sou gorda, eu só quero esquecer que eu tenho que ter uma definição por um dia e me sentir igual a todo mundo, com os mesmos direitos e obrigações. Mas, veja, não é isso que acontece, porque estou sendo constantemente e inconscientemente lembrada do contrário.

Por isso – e pra provar que nossa sociedade é realmente feita para magros e isso não é uma coisa só da nossa cabeça – resolvi listar algumas situações discriminatórias que as gordas passam em sua rotina, todas com um toque de humor, porque, afinal, é melhor rir do que chorar!

 

1. Catracas

Oi? Você realmente acha que eu consigo passar de frente em uma catraquinha dessas? JAMAIS. Meus quadris batem nas laterais e na pressa acabo de machucando. Me sinto bem assim:

A solução: eu uso a catraca de deficientes, que é maior e BEM mais confortável.

A dúvida: por que já não fazem todas do jeito das de deficiente, assim não precisam mais discriminar os deficientes e os gordos!

2. Portas de elevador

Aff, essa ai não precisa nem ser muito gorda. É só ter um ombro um pouco mais largo e aí você já tem que imitar uma lombriga convulsionando para sair de lado, com todas as sacolas, mochila, bolsas, carrinho de bebê AND a sua barriga. Num tá fácil ser gorda…

A solução: não tenho, saio de lado imitando uma lombriga mesmo.

A dúvida: por que não fazem umas portas maiores, meu Deus?! Aquelas antigas que a porta abria inteira, pelo menos, deixava a gente passar com tranquilidade.

3. Portas de banheiros coletivos (vale para banheiro de avião também!)

Sério… SÉRIO! No banheiro do trabalho tem UMA cabine que é maior – e ÓBVIO que todas magras e gordas vão nela. As outras a gente basicamente tem que subir no vaso para fechar a porta, depois descer levantar a tampa e fazer xixi se equilibrando, o que facilita já que a nossa cabeça está apoiada na porta porque não tem mais espaço!

A solução: ir na cabine maior  quando está livre – de pessoas e de “presentinhos”.

A dúvida: não era melhor colocar 3 cabines confortáveis, do que 4 apertadas?!

4. Cinto do carro

Olha, o meu fecha ali no talo – e as vezes quando saio da macarronada da nonna fica bem apertadinho. Então eu fico pensando: e uma pessoa que tem mais barriga que eu?! Será que era por isso que o Seu Barriga sempre cobrava o aluguel a pé?!

A solução: mantenho o banco do carro mais perto do cinto possível para não ter que puxar mais ainda e fico tentando alcançar o pedal com a pontinha do pé.

A dúvida: gente, quanto custa um metro a mais de cinto de segurança? Dá pra incluir na conta estratosférica que eu JÁ vou pagar quando comprar o carro?

5. Banco de transporte público

(catracas inclusive, mas entram lá no 1º item)

Devo admitir que nunca tive problemas com os ônibus, já que na linha que eu pego os bancos não têm divisão. MAS no metrô já são outros quinhentos… Quem teve a maldita ideia de dividir o banco ao meio com um plástico em alto relevo, deveria andar apenas sentadinha ali no meio, para entender a sensação que é ficar com uma nádega na superfície lisa e confortável e a outra nádega parecendo que tem uma lâmina cortando-a ao meio.

A solução: vou de pé ou, quandoestá vazio, sento na pontinha do banco do corredor com as pernas viradas para o corredor e, portanto, de costas para a divisão.

A dúvida: não dava para fazer a divisão apenas com cores, pintando o banco?!

6. Banco do cinema

Não tem NADA que eu odeie mais que as cadeiras do Cinemark! E digo do Cinemark, porque todos os cinemas são ruins (menos a sala 10 do Cinema do shopping Bourbon e algumas salas especiais mais caras que um Rolex), mas eles são TÃO gananciosos que parecem que contatam o mínimo espaço que uma pessoa precisa para sobreviver, só para conseguir socar mais pessoas em uma sala. O fato é que não fica só desconfortável para quem é gordo, mas para todas as pessoas que ficam com os braços tensos a sessão inteira por “medo” de roubar o espaço do braço do outro no apoiador de copos. E olha que é MUITO bem pago para toda essa tortura!

A solução: pagar ainda mais caro para ir em salas mais confortáveis ou esperar chegar no Netflix

A dúvida: gente, vocês já não são ricos o suficiente para pensar em coisas mais prazerosas para seus clientes?

7. Cadeiras com braços

Não sei o que é pior: quando o braço e vazado e consequentemente seus culotes vazam pelas laterais da cadeira; ou quando os braços são inteiriços e parece que você está tentando se encaixotar. (E ainda há quem diga que é fácil ser gorda!)

A solução: cadeiras sem braço ou sempre prefiro a opção 1: deixar os culotes vazando pelo buraco lateral e quando não tenho essa possibilidade, faço a princesa e sento bem na pontinha da cadeira, meio de lado – pareço fina, mas estou só salvando minha busanfa.

A dúvida: para o bem geral da nação, por que não fazem cadeiras um pouquinho mais largas?!

 

 ATENÇÃO: os gifs são meramente ilustrativos e NÃO tem só gordas, OK? Não me venha com essa”ééé mas quem disse que essa menina X/Y/Z é gorda?!?!?!”… NINGUÉM colega, ninguém disse…

 

Enfim, tenho certeza que você passa por essas e muitas outras que eu esqueci na de colocar aqui. Acho importante a gente levar tudo com bom humor, porque se for chorar por tudo que tá errado no mundo a gente ia morrer afogada em lágrimas. Mas me conta aí nos comentários se você já passou por situações como essa e quais outras que eu deixei de fora!!!!

Ah! E fica o meu recado, se você já passou por isso, relaxa, eu também e mais de 48,5% da população brasileira que está acima do peso também. Então não precisa ficar envergonhada ou com “medo” de ir nesses lugares… Vá já sabendo que eles não são “adaptados” para o seu corpo, mas que com jeitinho e humor tudo se resolve!  

 

HUA HUA

BJÓN

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