Criador da dieta Dukan prefere as gordinhas

Confesso que passei a última semana um pouco apreensiva. Eu, a gordinha assumida, iria fazer uma entrevista com o Dr. Pierre Dukan. O francês é o criador de uma das dietas mais famosas do mundo, que leva seu sobrenome. O tal regime, quase militar, é o responsável pelo corpão da J-Lo, da Beyoncé e conquistou até a duquesa de Cambridge, Kate Middleton, que perdeu 10 centímetros para entrar no vestido do casamento real. Logo imaginei um médico que me olharia com aquele ar de preconceito e tentaria me “catequizar”.

Dei a sorte de encontrá-lo durante o almoço – ambientes que têm comida sempre me dão mais segurança. Um senhor magro, com feições simpáticas, empunhando um garfo à frente do 2º prato, com peixes, saladas e legumes. Pareceu um almoço normal, que eu faria com prazer. Durante a entrevista, não rolou nenhum olhar de repreensão, mas eu não pude deixar de perguntar o que ele achava de pessoas que se aceitavam e não queriam fazer regimes. A resposta foi uma surpresa: o dr. Dukan, o “senhor da dieta”, não acredita no padrão de beleza da mulher magra! Pensamento que ele deixa bem claro em seu outro livro, “Os homens preferem as cheinhas”. Óbvio que este não fez tanto sucesso quanto o “Eu não consigo emagrecer”, onde ele ensina os passos da dieta Dukan. Mas, afinal, qual a explicação que ele dá para esta contradição?

 

Antes de te contar, vou explicar a minha surpresa com a resposta. A dieta Dukan é famosa por ser super restritiva. Resumindo muito, durante a primeira fase, que dura de 3 a 7 dias, você só pode consumir água e proteínas magras (peixe, frango, carne sem gordura, leite, etc).  Na segunda fase você reintroduz verduras e alguns legumes, ela dura uma semana para cada quilo perdido na primeira. Na terceira fase, você pode acrescentar duas fatias de pão por dia e massa duas vezes por semana. Nesta fase, você também tem o dia deenfiar o pé na jaca (ufa!) e pode comer uma refeição por semana no Outback, por exemplo. A quarta e última fase, você leva para o resto da vida. Já mais magra você come normalmente todos os alimentos e só se compromete a ingerir três colheres de farelo de aveia por dia, abandonar os elevadores e, às quintas-feiras, comer só proteínas.

 

Dito isto, dá uma olhadinha nas respostas, mais que surpreendentes, que ele me deu durante a nossa conversa:

O movimento de aceitação vem crescendo, mas você acha que dá para ser feliz estando acima do peso?

Sim, com certeza! Os homens preferem as mulheres mais cheinhas, é biológico, é normal que uma mulher tenha bunda, coxa, etc. Uma mulher reta e sem forma é que não é normal. Para todos os mamíferos, quanto menor a fêmea é em relação ao macho, mais atraído ele fica por ela. A mulher muito grande e muito magra perde a feminilidade, e para um verdadeiro homem isso não atrai. É sobre isso que falo no meu livro “Os homens preferem as cheinhas”. Já a mulher que aceita seu corpo é mais segura e tem muito mais sex appeal, portanto é mais atraente para o sexo oposto.

 

Como você explica essa vontade das mulheres de serem tão magras, quando teoricamente os homens preferem as mais gordinhas?

É uma questão social e mercadológica. Existe um motor do consumo, em que a mulher tem que ser melhor, tem que entrar nos padrões de beleza, para dar mais dinheiro. A mulher é mais rentável quando está infeliz. Uma mulher que se aceita, que se acha sexy e o outro gosta dela como é, é de graça, não precisa gastar nada.

 

Isto que te levou a escrever o livro “Os Homens preferem as cheinhas”?

Sim, porque na França vivemos um verdadeiro terrorismo com as mulheres. É uma pressão muito grande para que elas sejam magras, e muitas vezes nem magras, só pele e osso mesmo. A maioria das francesas queria ter, no mínimo, 1,70m e pesar 52 quilos. É abaixo do saudável!

 

No seu livro, você diz que a dieta é para as pessoas que estão em sobrepeso ou têm tendência a engordar. Mas você recomenda sua dieta para qualquer pessoa, mesmo que ela já seja magra?

Não, temos sempre que respeitar o índice de massa corporal da pessoa. Eu nunca recomendo regimes quando a pessoa quer ficar mais magra do que o ideal para a sua altura e estilo de vida. Por isso, a dieta é ajustável. No meu site, tem uma série de 11 perguntas, que definem quanto você precisa emagrecer e em quanto tempo, dentro do saudável. O que acontece é que muitas vezes as pessoas querem emagrecer mais do que o necessário e, nesses casos, eu não trato o paciente.

 

 

 

 

Como a gente descobre que tem que emagrecer?

Em minha opinião, você só deve se submeter a um regime quando isso prejudica a sua saúde ou quando você começa a perder as formas do corpo (neste momento, ele faz o formato do corpo violão com as mãos e diz “Você, por exemplo, é gordinha, mas tem um corpo lindo, não precisa emagrecer”. Obrigaaada, Seu Dukan, vou ali me acabar no quindim e já volto!). Enquanto isto não te incomoda de alguma forma, não precisa fazer regime.

Mas se eu quiser emagrecer, por que devo optar pela sua dieta?

Você pode passar a vida sem querer e, de repente, você tem um clique e uma vontade de emagrecer, mas essa motivação não dura muito tempo. Minha dieta não tem restrição de quantidade e dá resultados rápidos, já na primeira semana. Aí você não desiste. Isso é essencial, principalmente para quem está muito acima do peso.

 

Se uma pessoa fizesse a caminhada de 30 minutos diários, sem comer a mais, ela não emagreceria mesmo assim?

(Ele para… Faz contas…) Se ela caminhar 30 minutos por dia, em 10 dias ela terá gasto 1500 kcal. Em 100 dias, 15000, e em um ano 45.000 kcal. Ou seja, ela vai perder 5 quilos, a mesma coisa que ela perderia em 2 semanas do regime. Um ano é longo, 5 quilos não são nada para quem precisa perder 20 quilos, por exemplo. Quanto tempo ela teria que caminhar, sem pular nenhum dia e sem comer nada a mais?

 

Como é uma dieta que reduz muito o carboidrato, as pessoas não podem ficar prejudicadas na vida social e amorosa?

Os carboidratos impedem a gente de ser infeliz. Quando temos uma situação de stress ou dificuldade e consumimos o carboidrato, nos sentimos melhor. O stress é negativo e o carboidrato é positivo, então eles se anulam. Digamos que, dentre os meus pacientes, as pessoas que emagrecem têm uma recompensa muito maior que aquela que o açúcar dá. O fato de emagrecer deixa as mulheres muito mais felizes do que o açúcar deixaria.

 

Você não acha que uma dieta tão restritiva pode levar a pessoa a entrar em depressão ou anorexia?

A restrição aos carboidratos é durante um período muito curto. Ela pode ficar mais mal-humorada, mas depois da primeira semana os legumes já são reinseridos. Já a questão de anorexia e depressão, isso não vem do que você se alimenta, é uma questão psicológica, que o paciente teria de qualquer forma, com ou sem regime.

Depois da dieta, você não acha que comer vira um grande tabu?

O regime é estruturado nas duas primeiras fases e, mesmo que você tenha que perder muitos quilos, são fases relativamente curtas. Depois, nas duas últimas, é para você ir comendo naturalmente como todo mundo. Você come frutas, pão, queijo, massas e ainda pode se alimentar com duas refeições de gala por semana. Não tem frustração. Na última fase você come normalmente, como todo mundo, e não menos.

 

Se a pessoa se condicionasse a fazer só a última fase (sem o sofrimento das primeiras), ela não emagreceria?

As três regras (às quintas-feiras comer só proteínas, adicionar 3 colheres de farelo de aveia por dia e esquecer os elevadores) são para manter o que a pessoa perdeu e estabilizar no peso atual. Não funcionam para emagrecer.

 

Então ela não precisaria necessariamente abandonar o elevador, ela poderia fazer qualquer exercício?

Não, porque é parte de um ritual, subir as escadas é um reflexo de mudança na sua vida. Diante dessa escolha, subir de elevador já é perder. É para você não esquecer. A mesma coisa com a 5ª feira proteica, é uma vez por semana para você nunca perder o foco.

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Bom, nossa conversa terminou por aqui, mas fui surpreendida de uma maneira muito boa pelo Dr. Dukan. Achei que discordaria totalmente dele, mas concordei em tudo. Acredito que não é necessário emagrecer, mas que se você precisa mesmo, é melhor que o resultado venha rápido. Lá no site dele, você pode fazer uma avaliação gratuita de quanto você precisaria emagrecer, o link é www.dietadukan.com.br. A última recomendação do doutor? Procure sempre um médico para te acompanhar e faça exames antes, durante e depois de mudar radicalmente sua alimentação. E, claro, não precisa emagrecer só para se encaixar em um padrão!

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E aí, curtiram a entrevista? Me contem o que acharam nos comentários e vamos lá para o Facebook conversar mais

 

 

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