O Eduardo Santos, ou Edull como é conhecido, é um cara super talentoso. O designer, com seus 27 anos, já conquistou uma clientela fiel: as plus size Brasil afora. Isso porque ele tem um olhar diferente para a ilustração e consegue desenhar super-heroínas, bruxas más, personagens de filmes e qualquer outra mulher na versão gordinha. Além da riqueza de detalhes, o trabalho do Edull é bacana porque prova que é tudo uma questão de acostumar o olhar. E se nossas crianças se acostumassem com a ideia de uma super-heroína ser gorda? Será que teríamos tanto preconceito?
Essa mesma reflexão levou a estudante de ensino médio Jewel Moore a criar o “Everybody is Beautiful“ (todo mundo é bonito) uma petição online para que a Disney criasse princesas plus size. Ela diz: “eu sou uma jovem plus size e eu sei que muitas meninas e mulheres lutam com a autoconfiança e precisam de um personagem assim na mídia. Estudos mostram que a confiança de uma criança se relaciona muito com o quanto eles têm representação na mídia. […] Se a Disney fizesse uma princesa plus size que fosse tão brilhante, surpreendente e memorável quanto as outras, faria muito bem para as meninas plus size por aí que são bombardeados com imagens que as fazem sentir-se feia perto do padrão magro atual”. A petição já tem mais de 22 mil assinaturas.
Para entender melhor o trabalho do Edull e saber como ele chegou até aqui, fiz um bate-papo e adorei a visão dele. Vale a pena dar uma lidinha:
→ Como você começou a desenhar?
Comecei quando criança, reunindo os amigos para “brincar de desenhar”. Nos meus primeiros desenhos fiquei impressionado com a minha habilidade. E pensei, “Sou um desenhista!”. Na verdade, depois de alguns anos, descobri que estes desenhos estavam todos muito estranhos e desproporcionais. (rsrs) Mas minha mãe sempre dizia que estavam lindos! E isso serviu de motivação e empolgação para continuar. Por isso, deixo uma dica pra quem está começando: mostre sempre para a sua mãe.
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→ De onde surgiu o interesse por corpos curvilíneos?
Não sei explicar. Muitos acham estranho esse gosto, mas eu acho normal. A mulher gordinha é uma mulher. É normal. O que eu gosto nas gordinhas são as formas arredondadas e volumosas.
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→ Você já sofreu preconceito ou algum tipo de estranhamento por desenhar gordinhas? Como foi?
Já sofri preconceito sim. Eu comecei a desenhar gordinhas bem antes desse “boom” do mercado plus size, quando era raro esse assunto em qualquer tipo de mídia. Então, já dá pra imaginar o quanto eu era considerado estranho. Mas isso é bom. O princípio do artista é, de alguma forma, ser estranho.
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→ Você passou a imprimir seus desenhos em produtos como camisetas e calendários. Como funciona? Quais são os produtos que podem levar seus desenhos?
No final de 2012, larguei o emprego (que era criar estampas para tecido), para me dedicar a minha arte e trabalhar como designer freelancer. Eu vivo das encomendas de ilustrações, para empresas e pessoas. E agora estou começando a comercializar produtos. Tudo o que pode ser impresso, pode ser um produto meu (esse é o meu objetivo num futuro próximo rsrs). Sobre as encomendas, é só entrar em contato comigo. Faço retrato/caricaturas, mascotes gordinhas para lojas, ou qualquer outro serviço que precisarem (no contexto da ilustração, claro rsrs).
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→ Você encontrou um nicho esquecido pela moda, pelo design e, por que não dizer, pela sociedade. Como você acha que seu trabalho ajuda para melhorar esse cenário?
Eu fico muito feliz quando recebo mensagens de mulheres falando da importância da minha arte na vida delas. O quanto meu trabalho ajuda na sua autoconfiança. Esse é o maior estímulo que posso receber. Porque é esse o meu objetivo.
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→ Qual é o desenho que mais te deixou orgulhoso?
A She-Ra! Fiz muitas experimentações até chegar nesse resultado. E quando terminei eu fiquei emocionando, nem parecia que era eu quem tinha feito. Foi o desenho maior e mais colorido que fiz na época. A partir daí continuei nesse estilo.
→ Qual foi a melhor história que o seu trabalho te proporcionou?
Tenho duas. Uma mulher me contou a sua história. Sofreu durante toda a sua vida, com problemas familiares e sociais. Hoje ela está se recuperando de uma depressão profunda. E meus desenhos estão a ajudando superar essa situação. Uma blogueira dos Estados Unidos, contou que estava vendo minhas ilustrações das princesas da Disney e sua filha adorou os desenhos. Além de identificar todas as princesas, ela não perguntou porque elas eram gordinhas. Apenas as achou lindas em pronto.
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→ Um dos seus trabalhos mais conhecidos são as heroínas gordinhas, é assim que você enxerga uma menina plus size, como uma super-heroína?
O objetivo é mostrar que as gordinhas podem ser tudo o que elas querem. O fato de serem gordas não é empecilho para nada. A limitação está na nossa cabeça. Cada um pode achar em si mesmo um defeito e fazer disso uma limitação. Se não fosse a gordura, talvez fosse outra coisa. Então é mais fácil se aceitar como é do que mudar a si mesmo (isso sim é difícil).
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→ O que você acha dos padrões de corpo feminino aqui no Brasil?
O padrão e o preconceito sempre vão existir. Faz parte da sociedade, não tem como acabar. Se não pode vencê-los, junte-se a eles, conviva com eles. Todo mundo sofre preconceito, por qualquer motivo. O padrão para homens é ser musculoso, e durante minha vida toda sofri preconceito por ser magro (beeem magrinho). E sabe quando isso acabou? Quando me aceitei.
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→ Se você pudesse mandar uma mensagem para todas as meninas gordinhas do Brasil, o que você falaria?
Gordinha, essa palavra não te define. Você é uma pessoa, uma mulher. Normal como todo mundo. Nem superior nem inferior. Somos todos normais. O segredo de uma mulher bonita é uma mulher feliz. Eu sei que é difícil ir contra a uma maioria preconceituosa, mas faça um teste: esqueça um pouco essa corrida para o corpo ideal. Procure fazer o que te deixa feliz, aproveite a vida. E você será a mulher mais linda do mundo.