Eu NÃO VOU ME CALAR… Nem por você, nem por ninguém – nem pra evitar climão!

Hoje eu vi de perto o circo pegar fogo. Eu presenciei uma das discussões que mais me atingem, entre pessoas que eu encontro com prazer 2 vezes por semana – e quem me conhece sabe que me ver 2 vezes na mesma semana é muito difícil e só por muito amor.

Um compartilhou ridicularizando um post contra gordofobia, os outros foram lá e deram risada. Ninguém me ofendeu diretamente, mas também ninguém teve a coragem de se levantar e me defender, defender as minas gordas que eles têm nos seus facebooks e as gordas que literalmente correm ao lado deles na vida real. As minas que eles chamam de família.

Ser conivente com uma situação de humilhação ou corroborar compartilhando e/ou dando risada de uma situação desrespeitosa é tão preconceituoso e desrespeitoso quando o foco inicial. Depois, por inbox, a maioria veio de um jeito destrambelhado pedir alguma coisa que deveria se parecer como desculpa, mas era só um jeito de tirar o corpo fora, se isentar da culpa. Publicamente ninguém quer apontar o dedo pro coleguinha e correr o risco de cortar a zoeira…

Imagem do Instagram @historiadefogo  

O post em questão é o da Daniela Martins: mulher, feminista, gorda e negra. Ela teve sua página de Facebook invadida por tudo quanto é gente, opinando de forma agressiva, por vezes ameaçando sua segurança, apenas por exibir seu corpo da forma que bem lhe convém. Dos famigerados “é pela saúde” e “temos que lutar contra obesidade”, passando por memes ridículos e infantis que só têm graça pra quem não tem humor inteligente, até criação de perfis fakes para ridicularizar a moça, pessoas escondidas atrás da tela de um computador destilaram ódio gratuito e compartilharam milhares de ideias preconceituosas e opressoras. Ideias que diga-se de passagem, não alteram em nada o curso de suas vidas, foi apenas pelo prazer de humilhar e agredir uma pessoa feliz. (Agora reflita: uma pessoa que quer diminuir a felicidade do outro, deve ser apenas porque não consegue encontrar a própria felicidade, né?!)

Me perguntaram minha opinião, a princípio eu disse: todas nós somos atacadas quando damos a cara a tapa, temos que resistir e não dar atenção aos haters, porque é isso que eles querem. Temos que retribuir com amor todo o ódio – assim como a Dani disse em uma entrevista, e da mesma forma que eu disse quando rolou a treta com a propaganda da TNT (relembre aqui).

Mas e quando você vê pessoas tão próximas de você, pessoas que você acha que pode contar, pessoas que até então você admirava, fazendo exatamente o que você repudia com tanto fervor?! Como se isentar da treta, quando ela praticamente te dá um tapa na cara? 

E a decepção de achar que você conhece pessoas incríveis que correm ao seu lado, mas perceber que na hora de entender seu sofrimento, ninguém quer dar a cara a tapa por você APENAS para não quebrar a zoeira?! QUE DECEPÇÃO, HUMANIDADE.

Imagem do Instagram @historiadefogo  

Quando, há 9 anos, eu entrei na briga contra a gordofobia eu entrei por mim, mas não só por mim. Eu entrei pela Dani, por você e por tantas outras mulheres. Eu entrei para que NINGUÉM mais sentisse, como eu senti, uma verdadeira vontade de MORRER por não se encaixar nos padrões, por ser gorda, por sofrer preconceito. Eu entrei na treta para que mulheres gordas pudessem ter uma vida mais digna, que pudessem praticar esportes sem serem ridicularizadas, que pudessem namorar e postar uma foto de biquini sem medo de serem humilhadas. E mesmo depois de toda essa luta, contra mim mesma, contra a sociedade, contra o preconceito velado e público, ter que ouvir de pessoas próximas que isso é mimimi, ter que ler risadas em comentários, é TRISTE, É VERGONHOSO. Me embrulha o estômago ter que olhar de novo para a cara de pessoas que fingem estar ao meu lado, mas que não têm nem coragem de se levantar e defender um ponto de vista que não é só “politicamente correto”, é RESPEITOSO.

Eu digo para vocês: VOCÊS NÃO PRECISAM AGRADAR PESSOAS DE MERDA. Ninguém precisa mudar ou aguentar humilhação quieta por pessoas que não correm ao seu lado. Se as pessoas não estão ao seu lado quando você é atacado, elas estão contra você OU elas não dão a mínima pra você. E ninguém precisa agradar gente que não acrescenta.  

E, SIM, NÃO TENHAM MEDO DE CRIAR TRETAS E INIMIZADES DEFENDENDO A DOR E A LUTA DE VOCÊS. Eu estou aqui, publicamente compartilhando uma história pessoal, comprando briga com pessoas MUITO próximas, caindo pro jogo das inimizades, porque eu NUNCA VOU DEIXAR QUE DIMINUAM O QUE EU DEFENDO. Eu nunca vou deixar que diminuam qualquer outra mulher em sua luta, em sua felicidade e em sua aceitação. E VOCÊ TAMBÉM NÃO PODE. Seja homem, mulher, magra, gorda, alta baixa, negra, branca, amarela ou o que for, NÃO DEIXE QUE NINGUÉM DIMINUA A LUTA OU A DOR DO OUTRO – e também não faça isso achando que sua dor é maior.

Isso se chama EMPATIA: a habilidade de se colocar no lugar de outra pessoa e se sentir como ela se sente. O mundo seria um lugar melhor, as pessoas seriam mais felizes e tudo funcionaria de forma mais gostosa. Isso se chama EVOLUÇÃO. Mas tem gente que faz questão de se fazer de idiota e continuar numa inércia… Pessoas fracas. SEJA FORTE! LEVANTE-SE. Não fique omissa diante de uma situação que humilha, magoa ou violenta outra pessoa, porque NINGUÉM merece ser criticado por qualquer que seja sua situação, da mesma forma como você não gosta de ser criticado. 

Deixei um recado para a Dani, dizendo que meus olhos brilham cada vez que vejo uma postagem dela. Não para puxar saco, mas porque apesar de não conhecê-la A SUA LUTA É A MINHA LUTA: É UMA LUTA POR RESPEITO E NÃO POR PADRÕES FÍSICOS. E não interessa como tá a saúde dela, a conta bancária dela ou as louças na pia dela: ELA MERECE RESPEITO. E PONTO. 

Imagem do Instagram @historiadefogo  

Escrevi muito, falei demais. Mas é um post pessoal de desabafo porque mesmo eu lutando contra isso todo dia é uma merda ter que aguentar a ignorância das pessoas mais próximas e eu sei que vocês também passam por isso. Eu sou a rebelde em todo lugar que vou. Meu pai me apelidou de LÍNGUA DE TRAPO quando eu ainda era criança. Mas isso nunca fez de mim uma pessoa ruim, pelo contrário, foi DEFENDENDO A MINHA LUTA QUE EU AJUDEI TANTAS MULHERES. Você também DEVE fazer isso, por você e pelas outras.

 

Por hoje é só, gente. To chateada, mas não vamos abaixar a cabeça.

 

 

HUA HUA

BJÓN

 

Mulher, me promete respeito, que eu te prometo liberdade!

Quando eu comecei a escrever um blog de moda, fiz isso porque sou a favor de que a mulher pode usar o que ela quiser. Pouco tem a ver com a passarela da última estação, e muito tem a ver com a expressão de cada mulher dentro do seu estilo, independente do seu formato de corpo. Eu acredito que a mulher é dona de seu próprio corpo e que ninguém pode lhe dizer como se vestir, como se comportar e como ela deve viver sua vida a não ser ela mesma – e ninguém tem nada a ver com suas escolhas pessoais. E se você está lendo esse texto, nesse blog, acredito que você também seja a favor dessa ideia.

Então me diz, como você quer ter liberdade para usar um top cropped e botar a pancinha plus size de fora, se quando uma menina usa saia curta você pensa “aff que vagabunda”?!? Quando vê uma menina com decote e peitão e pensa: “essa quer dar”. Como você quer que as pessoas respeitem seu estilo e suas escolhas, se você mesma não consegue olhar outra pessoa sem julga-la?!? Me diz por que você acha que as pessoas devem respeito a você enquanto você mesma não respeita a decisão delas?!? Como você pretende parar de ser julgada, se nem você mesma para de julgar a outra?!?!

Eu pensei muito sobre os acontecimentos trágicos dessa semana, pensei muito sobre como as pessoas falam sobre a mulher, pensei muito sobre o que falamos por aqui. Infelizmente vi na minha timeline pipocarem várias opiniões de mulheres plus size bem resolvidas que querem ter suas escolhas respeitadas, mas esbravejaram opiniões invasivas sobre a maneira que outra mulher vivia sua vida, se vestia, se comportava, como se ela fosse culpada por uma decisão que ela não tomou.

Alguém me explica: a gorda sempre foi excluída, limitada nas suas escolhas de roupa e comportamento por conta de julgamentos e preconceitos alheios, mas não é justamente disso que a gente quer se libertar? Não queremos e lutamos todos os dias para que as pessoas PAREM de nos julgar pelo nosso corpo e escolhas e possamos finalmente tomar nossas decisões como SÓ nossas e com a maior liberdade possível?

Então fiquei pensando, a gente tem mesmo que parar é de ser hipócrita e fingir que lutamos pela liberdade, enquanto formos egoístas a ponto de acreditar que a liberdade só é válida para um grupo de mulheres ou, pior, só para nós mesmas.

A gente tem que desconstruir TODO E QUALQUER julgamento que a gente cresceu ouvindo, porque não é o que as pessoas olham por fora que define você. Não é seu corpo que define sua personalidade. Não é sua roupa que define suas vontades sexuais. Não é seu comportamento que dá liberdade para alguém invadir sua privacidade e seu corpo.

Compartilhei uma frase na minha página esses dias e acredito que esqueci de completar o pensamento:

Mulher, SEU CORPO É SÓ SEU, E NINGUÉM TEM O DIREITO DE OPINAR SOBRE ELE, TOCÁ-LO OU TOMÁ-LO COMO PÚBLICO. ASSIM COMO O CORPO DA OUTRA NÃO CABE A MAIS NINGUÉM, TAMPOUCO A VOCÊ.

 

Acho que antes de pedir respeito, a gente tem que começar a exercer o que desejamos. Não olhe outra mulher como uma inimiga, ela não é. Ela é sua irmã, ela sofre as mesmas dores que você, ela tem as mesmas pressões sociais que você, ela luta ao seu lado e suas conquistas beneficiam sua vida também. 

A gente faz parte de um grupo plus size, mas antes fazemos parte de um grupo muito maior chamado MULHERES. Se uma lutar pela outra, todas nós saímos ganhando.

Eu luto há 9 anos por vocês, mulheres, para que vocês enxerguem a beleza única de cada uma, para que vocês tenham cada vez mais liberdade. Nessa luta, criando empatia pelos problemas de mulheres que nunca conheci ao vivo, já vi e vivi muitos avanços. Eu acredito porque vi com os próprios olhos que quando as mulheres se ajudam, vidas são mudadas para melhor. VIDAS.

Imagem do movimento She For She

Fica aqui minha reflexão, meu posicionamento e minha promessa de que SEMPRE, sempre mesmo, eu vou lutar pela liberdade de cada mulher. Pela liberdade de que cada mulher possa ser o que, como e quando quiser, sem ter medo sem precisar se calar. Vou lutar sempre por mais respeito e gostaria muito que você fizesse parte dessa reflexão comigo e se juntasse a mim e outras mulheres nessa luta. A (r)evolução começa dentro de cada mulher.

 

Vem comigo?!? 

 

 

 

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