Precisamos falar sobre a Lizzo: gorda, negra e rainha na Billboard

Oi gente linda! Se você nunca ouviu falar na Lizzo, deixa eu te apresentar. Ela é uma rapper norte-americana, de 31 anos que conquistou pela segunda semana consecutiva o PRIMEIRO lugar, com a música “Truth Hurts” no Hot 100 da Billboard – a lista que ranqueia as músicas mais tocadas semana a semana.

Até aí, nada de novo sob o sol, afinal toda semana temos uma musiquinha lá no topo das paradas. Porém essa conquista é histórica, porque Lizzo é uma mulher gorda e negra, me arrisco a dizer, a primeira em toda a história a unir essas 2 características e ser publicamente reconhecida como número 1 no universo da música.

Entre mulheres negras, apenas outras 4 conquistaram o primeiro posto: Beyoncé, Rihanna, Janelle Monaé e Cardi B. Entre mulheres gordas a estatística diminui mais ainda (isso sequer existir, afinal, quantas gordas além de Adele você conhece que conseguiram prosperar na indústria musical?).

Após conquistar seu merecido primeiro posto, a cantora comemorou nas redes sociais: “nós somos número 1. Isso é uma vitória para todos nós. Qualquer um que tenha já tenha sentido que sua voz não era ouvida. Qualquer um que já sentiu como se não fosse bom o bastante. Você é. Nós somos. Campeões. Eu amo vocês demais”.

A questão é: Lizzo está fazendo bonito, está tendo voz e está dando um SHOW de música, autoestima e empoderamento. Duvida? Aperta o play no vídeo abaixo do VMA desse ano em que Lizzo, no melhor estilo Beyoncé Gorda com seu body amarelo, faz uma baita apresentação, com um corpo de baile majoritariamente gordo (QUÊ? QUASE ENFARTEI DE EMOÇÃO QUANDO VI AS BAILARINAS GORDAS!) e ainda embala um discurso que bota toda a audiência pra cima. É LINDO DEMAIS!

https://www.youtube.com/watch?v=Uo0RK_olDb4

Isso, minhas queridas, é o poder uma grande e gostosa raba usando sua visibilidade não para causar, mas para levar uma mensagem linda e cheia de verdade… Além claro das músicas serem incríveis! Baixei o álbum dela e agora, depois de ver a força e o poder dessa mulher, não consigo mais ouvir e não me sentir uma Deusa dona da minha própria vida e à prova de tudo. hua hua.

MAS NEM SEMPRE FOI ASSIM…

Quem vê essa cantora, linda e poderosa, no palco dando um show de autoestima nem imagina que um dia ela já se sentiu incapaz e invisível. Em entrevista à revista “Women In Music“, Lizzo contou que passou toda sua adolescência desejando ser outra pessoa.

“Eu tinha uma insegurança sobre como deveria ser a aparência de uma estrela ou como uma pessoa pública deveria parecer. E me sentia bem inadequada; me sentia como se eu não fosse suficiente; sentia que as pessoas não queriam me olhar e nem ouvir o que eu tinha a dizer”

Na entrevista ela ainda conta que não se via em lugar nenhum e isso afetou demais sua autoimagem: “eu não amava quem eu era. E a razão para que eu não me amasse era porque era me dito que eu não era amável pela mídia, pelas pessoas na escola, por não me ver em anúncios, por não me ver na televisão… Pela falta de representatividade“.

Por fim, ela conta que perdeu um tempão se odiando, “meu ódio por mim mesma era tão grande que eu fantasiava ser outra pessoa. Mas você não pode viver sua vida tentando ser outra pessoa“, explica.

SER FAMOSA RESOLVE A AUTOESTIMA?

Na mesma entrevista, Lizzo contou que apesar de suas músicas hoje serem felizes e alto astral, elas vêm de um lugar de dor e frustração e que ela ainda luta todos os dias para manter sua saúde mental nesse contexto. Ela sabe que altos e baixos são inevitáveis para todas nós, pra ela inclusive. “Estar nesses lugares [de dor e frustração] é inevitável para mim, eu vou acabar lá de novo. Mas o fato é que estou preparada agora para ir pra esse lugar – e eu tenho uma caixa de ferramentas para me retirar de lá – é de grande ajuda na minha jornada de saúde mental“, finaliza a rapper.


É realmente impressionante o que um pouco de representatividade em lugares grandes pode fazer por nós, né? Eu vejo a Lizzo e penso: se ela conseguiu prosperar no meio mais PODRE que tem, por que todas nós não conseguiríamos em nossas vidas? Cara, que suspiro de esperança e alegria foi descobrir a Lizzo.

Agora, junto a Adele, Lizzo entrou na minha lista de mulheres inspiradoras, a quem posso recorrer pra buscar referências de looks bafonicos mais perto da minha realidade física e alguém que leva a minha voz e a minha causa a um público muito maior. Minha própria Beyoncé gorda, como disse lá em cima. QUE RAINHA! E vou enaltecer mesmo, porque uma mulher corajosa dessas que dá a cara a tapa e abraça suas particularidades com orgulho tem que ser enaltecida mesmo.

Aliás, já tô até considerando fazer um post de looks babados da Lizzo, o que vocês acham? Enquanto isso, me contem aqui, vocês já conheciam essa mulher-maravilhosa? Ouvem a música dela? Vou deixar aqui embaixo o álbum dela no Spotify pra você curtir essa comigo:

Bom, gatonas, me contem aqui: o que vocês acharam dessa DEUSA?

Por hoje é isso

HUA HUA

BJÓN

C&A e a propaganda ENGANOSA: close erradíssimo!

Cara amiga gorda, você que acompanha esse e tantos outros blogs, se você ainda não viu a campanha da C&A, já aviso: NÃO SE ABALE. O que você vai ver é uma campanha de marketing mal feita, que tenta se apropriar da nossa luta para reafirmar ainda mais os padrões estéticos de magreza.

A modelo escolhida é a Malu, que veste 44/46 no máximo, ela é linda e talentosa, mas não é gorda e também não acredito que ela passe por um décimo das dificuldades e preconceitos que as gordas passam no dia a dia – como por exemplo tentar achar uma peça que sirva dentro de lojas de departamento, pra dizer o mínimo. Se o objetivo da campanha é mostrar que a indústria esteve errada por tanto tempo e que SIM a gorda pode ser sexy, por que raios a campanha resolve representar a gorda com uma mulher que NÃO é gorda?!?! 

O problema de uma campanha mentirosa – não nas palavras, mas na imagem – é que ela reafirma para todas as mulheres que AQUILO é o aceitável de ser gorda. Quer dizer então que ser magra é só se você vestir 38? Qualquer coisa acima do corpo de uma modelo de passarela, já pode ser considerada gorda?! OI?!?! Na verdade, o bonito pra gorda é na verdade ser magra… DE NOVO, GENTE?! Quando vamos parar?  Onde vamos parar?

Eu te digo: vamos parar em um monte de jovens com distúrbios alimentares. Vamos parar com um monte de mulheres infelizes com seus corpos, se submetendo a situações perigosas para mudarem o que veem no espelho. Vamos parar com um monte de mulheres traumatizadas se esgoelando na academia para serem uma gorda como a Malu OU para deixarem de ser gordas como a Malu e tentarem se encaixar em um padrão de magreza CADA VEZ MAIS MAGRO.

A Malu é linda, gente, mas ela não é gorda. E levar as mulheres a acreditarem que ela é só dá resultados ruins. Para as mulheres que não se aceitam e querem ser magras, faz com que esse objetivo fique ainda mais longe e ainda mais inatingível. Como ainda tem gente (muita, infelizmente) que considera gorda pejorativo, imagine o que pensam essas mulheres ao ver uma modelo como a Malu, que é só curvilínea, estampando a palavra gorda? Já estive no lugar dessas mulheres, quando eu era mais nova eu queria ser magra como a Malu, ter pernas finas e esquias, barriga sequinha, peitões. Aparentemente, seguindo essa campanha, eu nem sei onde eu iria parar, porque se a Malu é classificada como gorda, o que eu teria feito para ficar magra?! Reflita!

Para as mulheres que são gordas, faz com que a gente se sinta fora do nosso próprio segmento. Como se tudo aquilo que tem a ver com a nossa realidade – gordurinhas saltando para fora do jeans, culotes, celulite, gordura interna da coxa – ainda fosse algo realmente feio para se mostrar e, portanto, devesse ser substituído pela imagem mais magra de uma gorda que eles puderam achar.

Mais uma vez: eu não teria problema algum em ver a Malu estrelando a campanha de uma marca como a C&A, acho ótimo que as curvilíneas tenham seus lugares e torço para que a gente tenha uma diversidade maior de modelos mesmo! Mas já que é pra ser uma campanha cheia de representatividade, por que não colocam a Malu como curvilínea e uma modelo maior, como a Mayara Russi, por exemplo, como gorda?  

Ai, ai… A indústria da moda as vezes é tão cansativa. Se por um lado cada dia vejo mais inclusão, por outro vejo marcas e agências de publicidade tentando pegar carona nas lutas como um jeito de lucrar. Veja, eu não teria problemas com o lucro, contanto que finalmente a indústria fizesse com que cada garota se sentisse parte dela, mas a questão é que alguns closes erradíssimos só fazem com que nós, as margens da sociedade (gordas, negras, gays, trans, etc), nos sintamos ainda mais ERRADAS, como se até mesmo dentro da nossa própria causa, tivéssemos que mudar e nos encaixar dentro de um padrão.

Que vergonha! Que vergonha de ver uma marca se apropriar do nosso discurso de liberdade, do nosso discurso de aceitação, das nossas palavras de incentivo diário, para continuar a martelar nas cabeças das mulheres VELHOS E ULTRAPASSADOS padrões de beleza. 

Eu me sinto ultrajada e enganada. Não se engane: subjetivamente essa propaganda apesar da modelo plus size, não tem NADA de inclusiva e realmente só ajuda a reafirmar os padrões de magreza, mas fica a dica, segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor:

[blockquote author=”Idec, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor” ]De acordo com o artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), a ideia da publicidade abusiva está ligada à valores morais e atuais acontecimentos da sociedade. Em geral, é a publicidade que contém objetiva ou subjetivamente um discurso discriminatório ou preconceituoso. [/blockquote]

Bom, nem sei mais o que dizer sobre isso, mas como a blogueira Kalli Fonseca, do Beleza Sem Tamanho, falou: “nem precisamos pensar em boicote já que a marca já boicota as gordas, não tendo nada que nos sirva nas araras”… Isso porque não é a primeira vez que a C&A dá mancada com as gordas (relembre a campanha da Preta Gil aqui), vamos colocar uma gorda empoderada na equipe de marketing, vamos?! 

Infelizmente, é isso

BJÓN

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