O Globo de Ouro 2018 rolou no último domingo, 7 de janeiro, na Califórnia, Estados Unidos, mas toda a repercussão da premiação ainda está dando o que falar. Isso porque o discurso de Oprah Winfrey chamou atenção do mundo para um assunto muito sério: o assédio contra as mulheres. A ex-apresentadora, que foi homenageada com o prêmio Cecil B. DeMille, foi a primeira mulher negra a receber a honra e aproveitou o momento de agradecimento para falar do movimento TIME`S UP. Fiz uma lista com 5 coisas que aprendemos a partir da fala dela e de tudo que rolou em seguida. Se liga!
1) A Oprah é, mesmo, uma mulher incrível
A Oprah é incrível mesmo. Desde que assisti “A Cor Púrpura” fiquei apaixonada nessa mulher, que ganhou o mundo com seu maravilhoso talk show. A questão aqui é que ela teve coragem de fazer um discurso contra o assédio em pleno Golden Globes. Ela destacou a importância de receber o prêmio, como mulher e negra, para que crianças se sintam representadas.
“Eu tenho consciência de que neste momento há garotas assistindo eu me tornar a primeira mulher negra a receber esse mesmo prêmio.”
Todas precisamos de representatividade para sentirmos que fazemos parte da sociedade como um todo, não é mesmo?
2) Nós precisamos nos apoiar e denunciar, sim!
Diante de várias denúncias de assédio em Hollywood nos últimos meses, em especial o caso do produtor Harvey Weinstein (acusado de assédio por dezenas de atrizes, entre elas Angelina Jolie), nasceu a campanha TIME`S UP. O movimento conta com o apoio de 300 atrizes e visa ajudar mulheres com baixo poder aquisitivo a se defenderem judicialmente em processos de assédio, em especial no trabalho. Em seu discurso, Oprah reafirma a necessidade de apoio entre as mulheres para denunciar esses casos.
“Eu tenho certeza de que falar a sua verdade é a ferramenta mais poderosa que temos, e sou muito orgulhosa de todas as mulheres que se sentiram fortes o suficiente para se manifestarem e compartilharem suas histórias.”
3) Está começando, de fato, uma revolução!
No final de seu discurso, Oprah cita Recy Taylor (que faleceu no final de 2017), uma mulher negra americana que foi estuprada por 6 homens em 1944. Recy recebeu apoio de Rosa Parks, ativista conhecida por não ceder o lugar no ônibus a um homem branco, ato que deu início ao movimento negro nos Estados Unidos.
“Rosa Parks se tornou a principal investigadora em seu caso e juntas elas procuraram justiça. Mas justiça não era uma opção. Os homens que tentaram destruí-la nunca foram processados. Recy Taylor morreu dez dias atrás. Ela viveu, como todos vivemos, muitos anos numa cultura quebrada por homens brutalmente poderosos. Por muito tempo, mulheres foram desacreditadas se ousavam falar suas verdades contra o poder desses homens. Mas o tempo deles acabou. E eu só espero que Recy Taylor tenha morrido sabendo que sua verdade, como a verdade de tantas outras mulheres que foram atormentadas naqueles anos, e que são até hoje atormentadas, continua viva.”
Em seguida, Oprah faz menção ao movimento TIME`S UP e ME TOO, este último lançado no ano passado logo após as denúncias de assédio em Hollywood. A hashtag #metoo viralizou no Twitter após milhares de mulheres usá-la para compartilharem suas histórias de assédio, incentivando, assim, a denúncia.
“Então eu quero que todas as garotas assistindo aqui, agora, saibam que um novo dia está por vir! E quando esse novo dia finalmente chegar, será por causa de muitas mulheres magníficas, muitas das quais estão aqui conosco nesta noite e alguns homens bastante fenomenais, lutando para garantir que se tornem os líderes que nos levem ao tempo em que ninguém nunca mais precise dizer ‘eu também’.”
Tem noção do quão incrível é ouvir essa fala numa premiação globalmente assistida? Sim, podemos esperar por mudanças a nível mundial a partir disso.
4) Mexeu com uma… Mulheres unidas fazem uma REVOLUÇÃO
O Globo de Ouro não teve apenas o discurso poderoso de Oprah. Aliás, tudo começou no tapete vermelho: as atrizes usaram preto em apoio ao TIME`S UP, boicotaram o uso de Marchesa (grife da mulher do produtor denunciado) e levaram como acompanhantes ativistas feministas, esportistas e outras mulheres líderes em seus segmentos.
Ou seja, não levaram um homem como acompanhante. E, o mais maravilhoso de tudo é que elas evitaram falar de seus looks e focaram as entrevistas em causas políticas. Veja só uns exemplos de quotes:
“Estamos aqui juntas pois Tanara começou um movimento muito importante. Tenho muito orgulho de estar ao lado desta mulher, sinto as lágrimas nos meus olhos”, Michelle Williams.
“Estou usando preto para agradecer e honrar todas as mulheres que denunciaram suas histórias de assédio e intolerância. Estou aqui para celebrar a iniciativa da ‘Time’s Up’. Queremos igualdade. Queremos que as pessoas entendam que as mulheres iguais aos homens”, Debra Messing.
“O abuso do poder está em todo lugar: no cinema, no exército, todo os meios de trabalho”, Meryl Streep.
5) Ainda vemos mulheres reproduzindo machismo e, infelizmente, isso é uma realidade
Apesar de todo apoio de grande parte das famosas no Globo de Ouro, algumas não quiseram participar e outras até criticaram o evento. A atriz francesa Catherine Deneuve, de 74 anos, publicou uma carta aberta no jornal Le Monde dois dias após o evento, afirmando que os homens deveriam ser “livres para flertar”.
“Estupro é crime, mas tentar seduzir alguém, mesmo de forma insistente ou desajeitada, não é”, diz a atriz em sua carta, afirmando que homens que insistem com mulheres não estão sendo nada mais do que cavalheiros. Segundo ela, esses movimentos das atrizes no Globo de Ouro envergonham os homens acusados.
Pois é.
Aqui no Brasil tivemos a escritora Danuza Leão, que publicou uma coluna no Jornal O Globo também criticando o ato, comparando as roupas pretas com “um funeral” entre outras coisas até difíceis de digitar… Fiz um vídeo no meu canal em que falo mais sobre o texto da Danuza.
O que vemos com toda essa repercussão é que, de fato, ainda existem muitas mulheres reproduzindo machismo já que é algo que está entranhado na sociedade. Mas nada disso apaga a chama da esperança que foi acesa no discurso da Oprah e em toda a movimentação das atrizes. Que venham tempos melhores e que nunca mais a gente precise dizer “eu também”. Chegou a hora!