Concursos de beleza: a gente precisa rever os nossos conceitos!

Nunca vou me esquecer da Gracie Hart (Sandra Bullock) tendo que transformar toda sua vida, largar seus hábitos únicos e particulares, seu modo de viver confortável, para se tornar uma participante do Miss Universo, no filme Miss Simpatia. Fica claro tamanho sofrimento que é transformar a sua vida para se encaixar em um padrão. Não tem prova maior e sátira melhor que exemplifique o quanto ridículos são esses concursos de beleza e quanto eles precisam chegar ao fim. Eles representam esperanças para algumas mulheres que podem não ter tido oportunidades na vida? Sim, mas queridas essa esperança está sendo apostada em bilhete errado e sai muito caro para todas as mulheres – não só as concorrentes do concurso mas a todas, que ficam achando de forma direta ou indireta que mulheres mais próximas ao tal padrão são “mulheres melhores”. 

Os Miss-o-caramba-que-for chamam atenção mundial e atraem milhares de pessoas para frente da televisão com um único objetivo: eleger a mulher mais bonita entre algumas outras. Mais bonita pra quem? POR QUE mais bonita? Porque ela corresponde a medidas previas de como SERIA um corpo ideal, é isso? Porque ela é o modelo padrão, então? QUE ERRO. Beleza não tem padrão, além de ser muito subjetiva beleza é construção social e influência do meio… Não à toa que por mais diversidade étnica que tenha nesses concursos, sempre ganham as que mais se assemelham ao padrão europeu.

Veja, há anos eu deixo clara minha opinião contra concurso de beleza… Acho que reúne tudo de errado que eu vejo em relação à pressão sobre nossos corpos hoje em dia. Inclusive, também não sou a favor de concursos de beleza plus size. Acho de verdade que colocar um grupo seleto e bem pouco diversificado de mulheres em uma situação de competição estética mais prejudica do que ajuda. É gerar entretenimento ruim em cima de uma questão delicadíssima que é a representação da mulher. É ganhar dinheiro às custas de muitos psicológicos femininos – coisa que a indústria da beleza faz há anos e já estragou tanto a nossa autoestima. É reafirmar a cada ano que passa que a beleza dentro de algum padrão deve ser glorificada em pé. Isso não é saudável, não é bom…

Aí que volto de viagem e começo a receber um monte de notificação sobre um caso de “gordofobia” no Miss Universo. Fui checar. Pra começar, o evento em si é ABSOLUTAMENTE gordofóbico, porque embora não tenha uma medida padrão (segundo o concurso, não tem definição de tamanho ou peso para participar) todo ano a gente vê os mesmos esteriótipos sendo reproduzidos. Aí, pra piorar, quando FINALMENTE tem uma apresentadora como a Ashley Graham, modelo plus size de beleza estonteante, somos obrigadas a nos deparar com comentários ridículos sobre uma das participantes que não se encaixava no padrão de magreza das outras candidatas – sendo que mesmo estando fora do padrão de magreza, nem de longe ela poderia ser chamada de gorda.

Gente, sinceramente, o que poderíamos esperar de um concurso que limita a mulher à uma beleza padronizada? O que esperar da mentalidade de pessoas que acreditam que a beleza é o principal atributo de uma mulher? A gente tem que ligar para esses comentários? A gente tem que dar atenção a esse tipo de coisa?

Esse tipo de concurso, na minha opinião, é um retrocesso tão grande nas nossas lutas – todas elas, seja por igualdade, por autonomia, por aceitação, por amor próprio, por tudo – que não deveria nem sequer ser assistido. 

Você pode assistir porque quer, óbvio, mas saiba que você está contribuindo com uma indústria e com uma mentalidade excludente, que compara a mulher a um objeto, que ajuda na construção de um pensamento atrasado de que a beleza tem só uma medida, de que existe competição entre mulheres, de que a evolução de uma mulher é pautada pela sua beleza (e essa deve se enquadrar nos padrões).

Eu recebi o recado de uma leitora “Ju ajuda a calar a boca dessas pessoas que estão criticando”… Eu não posso calar a boca de ninguém – nem calaria se pudesse, mas gostaria de convidar cada uma a fazer uma reflexão e levar para suas amigas também: é isso que vocês querem da vida? Que tudo em vocês se resuma a quanto perto de umas medidas vocês estão? Vocês querem continuar sendo levadas por uma inércia de pré-conceitos que fazem com que vocês não tenham escolha sobre o que é bonito ou não para vocês? Vocês querem abdicar da sua capacidade e inteligência e aceitar o que é imposto assim, de forma tão autoritária? Reflitam sobre isso e conversem com as mulheres a sua volta… 

É claro que a gente acha uma ou outra mais bonita, baseada em nossos gostos, mas a revolta jamais deveria ser com a escolhida final e sim com o fato de TERMOS QUE ESCOLHER ENTRE UMA OU OUTRA.

A gente tem que, além de tudo, parar de achar que a vida é uma competição de belezas, abra seu coração e sua cabeça. Não tem espaço para duas, três, vinte ou cem mulheres serem as mais bonitas, todas com suas diferenças? Não tem como a gente parar de ficar elegendo “modelos a serem seguidos” e aceitar que cada pessoa é a mais linda do seu próprio universo?! Não tem espaço na sua cabeça para aceitar que não é necessário um modelo estético de beleza e que a televisão não precisa ditar as regras da sua vida? E por fim, abra sua cabeça e perceba que a mulher não precisa ser colocada em exposição para ter suas qualidades avaliadas, como se fosse um objeto em um leilão.

 

Enfim, para mim de todos os problemas que envolvem os concursos de beleza esse comentário “gordofóbico” não foi uma surpresa… Saiba que ele resume tudo que é um concurso de beleza.

E ainda acho que a gente deveria seguir o exemplo da Argentina e tentar de todas as formas suspender esses concursos de beleza (leia mais sobre isso matéria aqui).

 

Enfim, gatonas, perguntaram minha opinião e é essa. Qual a sua? O que você achou? Me conta tudo!

 

 

BJÓN

 

Project Harpoon: como é doentio querer impor seu padrão sobre os outros

Essa semana eu fui bombardeada de matérias sobre uma coisa – que chamam de projeto – chamada Project Harpoon e logo virou Operation Harpoon. Basicamente o ser por trás dessa “operação” suuuuper revolucionária (sinta a ironia) quer mostrar que ser magro é bonito, indo contra o padrão estético gordo – e para isso transformando gordas que superaram seus traumas e hoje se acham bonitas em… Bem, MAGRAS. OIIII??????

Segundo a pessoa que faz:

“Essa é uma página dedicada a mostrar os dois lados da beleza moderna. No atual momento da sociedade, surgiu uma nova tendência “pró-obesidade” e “aceitação da gordura” que pavimentaram o caminho para muitas pessoas renunciarem os exercícios e os cuidados pessoais com a saúde em geral. Essa página apenas tem o objetivo de mostrar que ser magro é OK! E que ter vergonha de ser magro não é OK 🙂 “

Mas gente! Essa pessoa vive no mesmo mundo que eu? Pera um pouco, acho que dormi e acordei em outro planeta…. Só pode ser!

Primeiro de tudo, onde começa a ignorância: o movimento de aceitação não é a mesma coisa que pró-obesidade.

Segundo: se aceitar só faz cada um gostar mais do seu corpo e cuidar dele COMO JULGAR NECESSÁRIO (decisão que só cabe a cada um mesmo, afinal ninguém é dono do corpo de ninguém!).

Terceiro: fazer ou não exercícios não faz com que as pessoas fiquem magérrimas. Eu por exemplo vou pra academia todo dia e continuo no tamanho 50, obrigada, mas não são todas as pessoas magras que vão à academia e você não vê nenhum movimento modificando o corpo delas… E nem tem que ter! Afinal o corpo é delas e de mais ninguém.

Quarto: criar um corpo COMPLETAMENTE irreal baseado em modificações do Photoshop só ajuda a reafirmar um esteriótipo inalcançável e impossível, que não ajuda a mulher a cuidar de sua saúde (como afirma o projeto). Pelo contrário! Só massacra a autoestima feminina e contribui para a infelicidade com o corpo, que leva a mulher a ficar descuidada e se esconder com VERGONHA de ir à academia, ao parque ou a qualquer outro lugar. Ou seja, em vez de ajudar e incentivar a mulher, esse projeto só consegue ACABAR com qualquer propósito que ela tenha.

POR FIM, tenho que comentar sobre a última parte da descrição, que pra mim mostra o quanto ignorante, sem percepção e rasa é essa criadora do Project Harpoon. Até ontem, quando eu fui dormir, nós éramos bombardeadas de imagens de mulheres magras e photoshopadas, nos dizendo 24/7 que se a mulher não se encaixar nesse corpo sua vida jamais poderá ser completa e ela jamais poderá ser feliz, ter um relacionamento, ser bem sucedida ou sequer respeitada. E não o contrário…

Até ontem, o movimento de aceitação (não, não é um projeto e nem uma operação, é um movimento de seres humanos que olham na mesma direção, mesmo) não era dividido entre gordas e magras, pelo contrário, o movimento de aceitação é A FAVOR DE GORDAS E MAGRAS E QUALQUER OUTRO TIPO DE CORPO. É a favor da mulher e de que ela se sinta bem em seu corpo como ele é. Que ela se sinta dona de suas próprias decisões e decida por si só o que fazer com o SEU corpo. E isso significa que sendo ultragorda ou hipermagra ela tem o DIREITO de ir na academia sem vergonha (ou não ir também) e saiba que SUAS decisões afetam apenas o SEU corpo. E que o futuro do SEU corpo, será uma consequência de SUAS decisões. Mas que ela não precisa ser magra, gorda, bolada ou o que seja para isso.

Por que o movimento de aceitação é representado por mulheres com gorduras, então? Umas mais, outras menos, mas essas mulheres foram EXCLUÍDAS da sociedade por muito tempo. Por que essas mulheres NUNCA foram aceitas. O fato delas serem gordas, no entanto, não exclui as magras… Dizer para aceitar seu corpo é diferente de dizer que todo mundo tem que engordar! 

Meus caros do Project Harpoon ou Operation Harpoon, cresçam e percebam que o movimento de aceitação corporal pouco tem a ver com a aparência do corpo em si, e muito tem a ver com a LIBERDADE.

E se eles realmente estivessem preocupados com a saúde de alguém, teriam feito um tumblr sobre esportes, academia, alimentação saudável… E não um de imagens photoshopadas tentando provar que ser magro é ser mais bonito, porque afinal a gente nem vê e revê essa afirmação em tudo que aparece na nossa frente, não é mesmo?!? Que original… (sinta, de novo, a ironia).

Sem contar que, spoiler: vai rolar denúncia de preconceito, não é toda gorda que é doente e nem toda magra que é saudável. Assim como tem gordas doentes e magras saudáveis, óbvio, e por isso não dá pra colocar todo mundo fisicamente parecido em uma caixinha.  E tem gorda que vai, SIM, pra academia!   

 

Bom, agora minha impressão pessoal é que esse tumblr e projeto é feito por uma criança/inicio de adolescência que aprendeu a mexer no Photoshop e na internet cedo demais pra perceber que suas ações têm consequências e cedo demais para poder estudar, ler e refletir com clareza sobre as questões que quer colocar. Acho, inclusive, que essa pessoa fez esse tumblr por ter questões pessoais com o seu próprio corpo e não saber lidar com elas.

Aí que eu digo que é muito doentio querer impor o seu padrão sobre os outros. É achar que você é melhor que alguém. Por quê? Por acaso você nasceu de um ovo de ouro e foi abençoada pelos 7 céus? Só porque você acha mais bonito ser magro (e isso é ok, é só uma questão de opinião) não quer dizer que quem é gordo é feio ou que todo mundo tenha que se encaixar na sua opinião e muito menos que você tem o direito de ofender quem é diferente de você. Só porque você é/gosta/quer/está tentando ser magra não quer dizer que o mundo todo deva querer também, entende?! Achar que sua opinião deve prevalecer sobre a de qualquer outra pessoa é muito doentio e isso sim é uma ideia que deve ser rebatida, não com Photoshop mas com clareza e informação.

Por fim, eu realmente acho que em todas as imagens a foto original é tão bonita quanto a photoshopada seria se fosse de verdade. Porque eu aprendi a ver beleza no que é real, palpável, existente e não ficar criando expectativas a respeito do corpo dos outros. Existem diferentes tipos de corpos e eles não têm que ser iguais. Existem corpos gordos bonitos e existem corpos magros bonitos. Inclusive, tenho certeza que se as mulheres representadas naquelas fotos emagrecessem de verdade, pouco se pareceriam com a imagem photoshopada, mas continuariam bonitas.

Ou seja, que tal a gente ignorar a existência desse projeto e continuar lutando ao lado das pessoas que têm o mesmo objetivo e a mesma visão de corpo que a gente? Que tal a gente continuar lutando para a INCLUSÃO e não pelo padrão? Que tal continuarmos lutando para que TODO TIPO DE BELEZA seja reconhecido (magro, gordo, bolado…) e seja aceito sem preconceitos?!

 

Enfim, fica aqui minha opinião sobre o tal do Harpoon Project / Operation Harpoon, e a Marixxx do Tamanho P, a Paulinha Bastos do Grandes Mulheres e a Mari do Moda Plus Size Brasil também deram suas opiniões a respeito, vou deixar os links abaixo. Vale a leitura!

Maris, do Tamanho P >  http://bit.ly/1U8iRly 

Paulinha, do Grandes Mulheres > http://bit.ly/1I5gZ69

Mari, do Moda Plus Size Brasil > http://bit.ly/1U0ZUXp

 

Agora, qual a de vocês? Me contem TUDO nos comentários e vamos crescer esse diálogo!!! Ah! Vamos evitar as ofensas se der, ok? hehhehe

 

Por hoje é isso

HUA HUA

BJÓN

 

Livro Mulheres de Carol Rossetti é uma fofura e questiona os preconceitos contra a mulher

Olá queridas! O tema de hoje é muito gostoso ♥ Leitura, ilustração e quebra de preconceitos (acho que é o meu top 5 de temas favoritos com moda e música). É que saiu o livro Mulheres de Carol Rossetti! Se você não conhece ainda, tudo bem, te conto um pouco. A Carol começou a fazer sucesso ano passado, em 2014, quando espalhou seus cards ilustrados pela internet em uma luta contra diversos tipos de preconceito. Eu cheguei à Carol por conta desses 2 cards em especial:

 

E aí que comecei a ver todos os outros cards liiiindos, defendendo todo tipo de mulher com todas suas características diferentes. Ao mesmo tempo que é libertador dá até um pouco de raiva de ver como nós sofremos com as regras que nos são impostas diariamente, com os julgamentos, com o machismo, com o body shaming e com todo tipo de preconceito. A Carol tem um posicionamento super bacana e digno de ser levado para a vida:

[blockquote author=”Carol Rossetti, autora do livro Mulheres” pull=”normal”]”Todos travamos batalhas internas e enfrentamos desafios diariamente, e é importante respeitarmos o fato de que há muito mais no outro do que o que enxergamos em um primeiro momento”[/blockquote]

Bom, aí que essa mineirinha de 27 anos conquistou TANTO as ~moliéres~ que seus cards foram traduzidos em 15 línguas e se espalharam pelo o mundo. Agora, esse ano, saiu o livro Mulheres que reúne em 160 páginas muitas frases e desenhos inspiradores e libertadores. O livro Mulheres saiu pela editora Sextante e está à venda por R$ 39,90 (na Saraiva por R$ 31,90!) mas é do tipo que deve virar objeto de decoração e ficar na mesa de centro da casa, para que TODO mundo que chegue possa dar uma folheada.

 

Enfim, estou apaixonada pelo livro e já vai para a mesinha da sala na minha casa nova junto com o kit fofo que veio por causa da divulgação do lançamento, com alguns esmaltes e escalda-pés da Granado em uma caixa ilustrada ♥ Acho bacana quando as marcas se posicionam e apoiam nossas causas >.<

 

♥ Sobre o livro Mulheres de Carol Rossetti ♥

Editora > Sextante 
Preço >R$ 39,90 (mais ou menos)
Ano > 2015
Onde encontrar > Saraiva | Livraria Cultura 
Site oficial > http://www.carolrossetti.com.br

 

Enfim, vocês conheciam o livro já? E as ilustras, já viram passeando pelas timelines? Me contem TUDO e fica a dica de presente MUITO legal pras amigas que fazem aniversário ♥

 

 

Por hoje é isso, curtiu? Compartilha com as amigas e deixa sua opinião aí nos comentários

 

HUA HUA

BJÓN

Por que você precisa tanto saber quanto eu peso?

Vira e mexe eu recebo a mesma pergunta: “quanto você pesa?” Há muitos anos, quando eu era a louca do regime e achava que só seria alguém se tivesse um certo peso na balança (muito baixo, diga-se de passagem) , o número que dava quando eu subia naquele quadradinho realmente me interessava. Ele não tinha nada a ver com controle de doenças, o tal do “quanto eu peso” era apenas um controle para o meu cérebro, que teimava em dizer: AINDA NÃO ESTÁ BOM, AINDA É MUITO. Um controle que é imposto a todas as mulheres para que elas fiquem cada vez mais infelizes com sua aparência e seu corpo e consumam e gastem o que tiverem que gastar para diminuir o tal do número, tendo mais em vista se encaixar em um padrão do que de fato manter a saúde (e antes de sair soltando fumaça pela orelha, favor ler o resto do post, ok?!).

O peso de uma pessoa sozinho não indica absolutamente nada. Dentro de um contexto aprofundado, talvez ele signifique alguma coisa. O que adianta saber o peso se você não sabe a altura? Já não dá nem pra calcular IMC. E se tiver a altura também, o que você tem a ver com o IMC do outro? Vai cuidar do seu e deixe a vida e a saúde das outras pessoas para elas cuidarem! Também de que adianta ter apenas o peso se você não sabe a porcentagem de gordura corporal? Sabia que músculo é mais denso e pesado que gordura? Ou seja, uma pessoa pode pesar 70kg e ser magra e malhada ou pode pesar os mesmos 70kg e ser só gordura. Mas, de novo, o que você tem a ver com o corpo dela, mesmo?!?

O fato é que eu posso pesar 50kg, 75kg ou 100kg e isso continua não sendo da conta de ninguém e, para ser sincera, não me interessa muito esse número, não… Depois que eu fiz terapia e comecei a ter outra percepção do mundo, do que é beleza e descobri que quem tem que tomar conta do meu corpo sou eu, simplesmente parei de subir na balança para controlar loucamente quanto eu peso. Comecei a ir ao consultório da minha médica e me pesar de costas, de forma que ela visse o peso e me dissesse o que eu precisava ou não fazer. Se ela dissesse que era para eu emagrecer, eu emagreceria… Mas não foi o caso até agora. Então, como você pode ver, o número na balança pouco teve a ver com o resultado dos meus exames – embora eu tenha passado a minha infância e adolescência sendo levada a acreditar o contrário.


>>> Leia também: Confissões de uma mulher normal


Fazer exercícios e manter uma alimentação equilibrada têm a ver com o resultado ótimo dos meus exames, mas éééééé…. O que alguém tem a ver com isso mesmo? Pra ser sincera, o resultado dos meus exames e minha saúde cabem a mim, apenas a mim. Se eu pedir ajuda ou conselhos, aí sim a opinião de quem quer que seja possa ter algum sentido, enquanto isso, vamos fazer o seguinte: cada um cuida da sua vida e vale dizer que se o visor da balança é tão pequeno deve ser para apenas 1 pessoa enxergar, não é? (Você tem toda licença poética para roubar essa frase e usar na sua vida 😉 )

Voltando à pergunta que sempre me fazem, entendo a curiosidade, mas como não tenho a resposta, então rebato com outras perguntas: por que você precisa saber o meu peso? Será que esse número não vai te fazer tirar conclusões muito precipitadas a respeito do MEU corpo e da MINHA saúde? Conclusões que não cabem a você e que só fariam você me olhar cheia de preconceitos? REFLITA. 

A desculpa da preocupação com a minha saúde também não cola, sinto informar, já que circunferência abdominal e a frequência de exercícios físicos são outros, entre muitos, números tão importantes quanto o peso para a manutenção da saúde – se não forem ainda mais importantes – e ninguém NUNCA me pergunta isso. Então, vamos parar de ser hipócritas e nos esforçar para sair da ignorância com dignidade.

Já como blogueira que expõe roupas e acessórios no blog, acredito que tenham perguntas que fazem muito mais sentido como, por exemplo, quais são minhas medidas. Se eu te disser que tenho 125cm de quadril e que visto G1 de tal loja, essa informação pode REALMENTE ser útil a alguém que queira comprar a mesma peça. Se eu falar que tenho 1,57m de altura e a calça flare fica curta na minha perna, essa informação também será útil. Agora, o peso que meu corpo tem não influencia minha aparência, o número que eu visto ou o caimento das roupas.

 


Para pensar

As vezes a gente entra tanto na inércia de cobranças corporais, padrões e pressão social que acaba não conseguindo frear e parar para refletir o real sentido das coisas. Então eu proponho um desafio: que tal toda vez que você pensar QUALQUER coisa sobre o seu corpo ou o corpo dos outros você apenas parar durante 1 minuto e começar a se questionar por que você pensou aquilo e o que te levou a ter essa opinião? Algumas formas de pensar não têm muita razão e não passam de preconceitos, mas a gente raramente para para perceber.


Será que você não tira conclusões precipitadas baseada em informações rasas?

 

Bom gatonas, esse é um post total para refletir sobre se de fato esse número chamado peso é realmente importante ou só vai fazer a gente tirar conclusões precipitadas a respeito do corpo dos outros.

Eu sempre digo que aqui no blog a gente NÃO faz apologia a obesidade ou a um tipo específico de corpo, a gente só acredita que uma mulher que consegue enxergar sua própria beleza (seja ela como for), consegue aumentar seu amor próprio e a partir daí vai passar a se cuidar melhor, mas acima de tudo, vai passar a ser dona do seu próprio corpo e fazer dele o que quiser!!!

 

Enfim, gatonas, já passaram por isso? Já ficaram constrangida com peso alguma vez? Já se perguntaram por que vocês se cobram tanto em cima desse número?

Me contem tudo! E desculpem a revolta, mas foi sincero… hua hua hua

 

HUÁ HUÁ

BJÓN

Plus size na dança: conheça o projeto Nothing to Lose

“O que realmente significa quando você coloca pessoas gordas em um palco e as chama de profissionais da dança?” Foi a pergunta a ser respondida pela diretora artística da Force Majure, Kate Champion, em seu último trabalho antes da aposentadoria.  O projeto que chama Nothing to Lose, coloca uma equipe inteira de pessoas plus size na dança.

A sua verdadeira inspiração veio das baladas, quando ela via pessoas comuns (não profissionais) dançando na pista e seus olhos eram automaticamente puxados para as mais gordas, então ela passou a se questionar: “por que nós não vemos isso nos palcos? Quando isso foi proibido?”. Ela começou a pensar como seria ter um grupo inteiro de dançarinos gordos. Aí ela encarou a primeira dificuldade: por ser magra, precisava de uma coreógrafa que sentisse na pele como era ser gorda, para que o resultado final não ficasse pejorativo ou abusivo. Foi quando Kate encontrou a artista, cineasta e ativista plus size Kelli Jean Drinkwater, que a ajudou desconstruir os preconceitos acerca dos gordos e realmente levar ao público o prazer de ver um corpo fora dos padrões se mexer de acordo com a música.

Sua segunda dificuldade foi se deparar com as diferenças entre um corpo plus size e o de uma bailarina magra. Aprender a lidar psicológicamente e fisicamente com a limitação de seus bailarinos foi um grande desafio, por outro lado trabalhar com novos movimentos por conta do excesso de carne e formas foi o lado positivo e de grande aprendizado da diretora artística, já que as plus size na dança tinham muito mais o que chacoalhar – de forma positiva, é claro.

Essa produção destemida teve como objetivo investigar as experiências das vida real e histórias que desafiam os padrões estéticos e recuperam um espaço performativo perdido pelas pessoas de corpos grandes. As plus size na dança representam o abandono dos velhos esteriótipos e a mudança das expectativas nas performances.

O vídeo está em inglês, mas vale o play 😉

♥ Plus size na dança com o projeto Nothing to Lose ♥

 

Foto: Toby Burrows
Foto: Toby Burrows
Foto: Toby Burrows
Foto: Toby Burrows
Foto: Toby Burrows
Foto: Toby Burrows
Foto: Toby Burrows
Foto: Toby Burrows
Foto: Toby Burrows

 

 

Bom, gostando ou não do resultado final, o importante é sempre ter respeito, né, meu povo? Eu gostei bastante (me lembrou eu nas aulas de dança hua hua hua). Acho que projetos como esse são importantíssimos para “reacostumar” o olhar de todas pessoas (magras e gordas) e para tornar cada vez mais comum ver corpos grandes em lugares onde eles foram, incoscientemente, proibidos. Achei corajoso e sensível

Sua primeira apresentação ao vivo deve rolar dia 11 de março de 2015, no Merlyn Theatre, Malthouse Theatre, na Austrália. Fica a dica se estiver por lá!

 

Por hoje é isso, curtiram? Então compartilhem com as amigas plus size para mostrar que SIM, TODAS PODEM FAZER TUDO O QUE QUISEREM – inclusive ser dançarina profissonal. Beijinho-no-ombro

 

HUA HUA

BJÓN

 

 


	

Andressa Urach: até onde as mulheres vão atrás dos padrões?

O Brasil que acompanha a vida dos famosos está dividido: metade preocupado com o estado da Andressa Urach – a vice Miss Bumbum – e outra metade crucificando a menina por ter aplicado o tal do hidrogel nas coxas – procedimento que agora levou a “modelo” ao estado grave na UTI. Só se fala disso no universo das celebridades. Mas ninguém está apontando a verdadeira discussão: até onde a mulher é levada para atender certos padrões?! Até onde ela vai – e tem o caminho livre para isso – para agradar os outros, chamar atenção para si, ser vista?! 

Há 5 anos Andressa Urach fez um procedimento de preenchimento nas coxas, para que elas ficassem mais grossas, claramente indo contra a formação natural de seu corpo, que apesar de toda a musculação, não ficou com coxas ultramusculosas. Aí não contente com o resultado máximo da academia, ela resolveu se submeter a um processo cirúrgico, invasivo e perigoso, com uma substância que é permitida apenas para pequenas correções (em até 2 ml) e não para “preencher” grandes áreas como glúteos, coxas e seios. Mas e aí, de quem é a culpa? É do médico sem ética. É minha. É sua. É da Urach. É de todas as mulheres e de todos os homens que ficam babando nesses corpos claramente antinaturais, conquistados a base de muitas cirurgias e muitas dietas malucas. A culpa é de todo mundo que é conivente com ditadura estética de corpos perfeitamente esculpidos custe o que custar.

Achei difícil achar uma imagem em que ela não estivesse hiper sexualizada. Até onde as mulheres irão para se tornarem apenas um símbolo sexual? Vale a pena?

O que aconteceu com Andressa Urach poderia ter acontecido com você

Sim, em escala menor o que aconteceu com essa moça acontece todos os dias nas casas de milhares de pessoas. Mulheres se submetendo a situações ridículas para entrar nos padrões, se encaixar em uma “turma”, aparecer. Meninas parando de comer, vomitando, fazendo mais exercícios que os seus corpos aguentam, prejudicando o seu crescimento na adolescência atrás da dieta da moda e mais um monte de outras situações que não só podem destruir a autoestima delas para o resto de suas vidas, como também pode prejudicar a saúde de forma irreversível.

O perigo existe a partir do momento em que se perde a noção do que é real e possível e se passa para o nível da fantasia em busca de um ideal surreal. A pessoa que não é brecada e aconselhada nesse caminho (como Andressa não foi por seus parentes, nem pelos médicos irresponsáveis que fizeram o procedimento com hidrogel) perde a noção de racionalidade e passa a viver emocionalmente seus desejos estéticos, em busca sempre de um ideal além do que já existe. Essa pessoa sai da realidade, então tudo que aqui já existe não é e nunca será o suficiente, em um ciclo eterno de modificações até que algo mais grave aconteça – como ir parar na UTI ou até ficar tão plastificada a ponto de ser irreconhecível.

Alguém precisa intervir por essas pessoas. É preciso reeducar as mulheres, fazer com que elas tenham mais racionalidade sobre os seus atos, mais responsabilidade em cima de suas decisões e, por favor, fazer com que elas reflitam sobre tudo que influencia os seus corpos. Nós somos e sempre fomos condicionadas a tratar o nosso corpo como se ele fosse um objeto que as pessoas têm que admirar, gostar, desejar e nossa responsabilidade mínima é fazer com que ele esteja sempre nos trinques. Sempre fomos condicionadas a permitir que o nosso corpo fosse objeto de avaliação. Mas o que queremos para a próxima geração de mulheres? Queremos ver nossas filhas deitadas em uma cama de UTI ou chorando em frente ao espelho? Queremos que nossas filhas tenham vergonha de serem o que são? Queremos que elas percam mais tempo cuidando do que tem por fora do que alimentando o que tem por dentro (que é muito mais rico e cheio de possibilidades)? Eu não quero ver minha filha rodeada de futilidades, crianças que só pensam em seus corpos, que não conseguem se concentrar no aprendizado porque falta açúcar no sangue… Eu não quero ver minha filha crescendo com meninas que querem ser “gostosas” para “arranjar um bom marido”. Ao contrário. Eu quero uma próxima geração de mulheres que tenham suas próprias conquistas, que ganhem seu próprio dinheiro, tenham poder sobre seus corpos e que, se casarem, que o façam porque encontraram um parceiro(a) que vale ter do lado para o que der e vier, um amigo que dá apoio suporte e compartilha os seus medos e desejos e que, acima de tudo, não cobre dela ser nada além do que ela é e como ela é.

 

Parece impossível agora? Pois é… Mas se a gente começa a luta e espalha isso aos 4 cantos, as coisas começam a mudar. Eu ouço relatos de meninas que passaram a pensar diferente sobre seus corpos depois de começarem a ler o blog. Perderam encanações, melhoraram autoestima, voltaram a sorrir em frente ao espelho. Então, essa luta é minha, é sua e de todas as mulheres, porque queremos uma geração de mulheres evoluídas e não de escravas dos padrões vigentes (sejam eles quais forem).

 

Enfim, falei muito nesse texto, mas acho que é uma discussão muito válida e que deveríamos espalhar para que todas as mulheres lessem e refletissem sobre o que as motiva de verdade quando elas olham e odeiam seus corpos. Eu espero que você esteja nessa luta comigo e vamo que vamo 😉

 

 

Por hoje é isso e desejo, de verdade, melhoras a Andressa Urach que é apenas uma borboleta presa no furacão desordenado de cobranças e padrões que vivemos hoje.

 

BJÓN

 

 

Trilha Sonora do dia e reflexão sobre padrões

Esses dias várias leitoras queridas me indicaram uma trilha sonora que ouço todo dia no repeat. É a All About That Bass, da Meghan Trainor, uma cantora americana que está fazendo o maior sucesso por criticar os padrões em sua música (ver tradução abaixo). A verdade é que eu amei a batida da música, a empolgação e a parte em que ela defende o corpo “violão” com unhas e dentes… Mas, opa, pera lá! Sim, eu acho muito legal a crítica em relação às mulheres irreais criadas pelas revistas, a crítica ao Photoshop e a parte que ela diz, empolgada, “Se você tem beleza, beleza, eleve-a. Pois cada pedacinho de você é perfeito. Lá de baixo até o topo”. Mas olhando a letra, fico chateada com uma coisa: o fato dela criticar as meninas magras com frases até agressivas para o meu gosto.

É muito comum (e eu até já falei sobre isso por aqui) ouvir frases do tipo “homem gosta de ter onde pegar” ou, no caso da música, “homem gosta ter onde pegar à noite”. Mas, gente, isso não é legal. Ninguém precisa diminuir os outros para se mostrar melhor. Nós, gordas ou apenas meninas fora dos padrões, fomos diminuídas durante anos – e somos até hoje – e sabemos que isso não faz bem para autoestima de ninguém, sabemos que isso nos destruiu psicologicamente, então por que dizer exatamente o que não gostaria que fosse dito a você?

Eu sei que é um jeito de se rebelar, de dizer chega, de falar que você é dona de um corpo lindo e desejado tanto quanto de uma menina magra… Mas francamente, você não precisa negar um padrão impondo outro! Além disso, da mesma forma que não gostamos de ser generalizadas, não vamos generalizar também. Homem não gosta disso ou daquilo. Tem homens que gostam disso e homens que gostam daquilo. Tem homem que gosta de gorda, tem homem que gosta de magra e independentemente do que eles gostem, somos nós que temos que gostar do nosso corpo.  

Eu adorei a música e recomendo. É uma música “empoderadora” para nós que não nos encaixamos nos padrões. Mas não se deixem levar pela ideia de diminuir as meninas diferentes de você. Fiquem apenas com a ideia principal: você é linda com o corpo real que você tem – seja ele magro, gordo, grande, pequeno, alto, baixo… – e aprenda a aceitar o que é diferente.

Agora aperta o play na trilha sonora de hoje, levanta da cadeira e vá rebolar… Você merece, tem um corpo lindo e é tão sexy quanto qualquer outra pessoa 😉

 

 

All About That Bass – Meghan Trainor

 

Because you know I’m all about that bass (Porque você sabe, eu sou mais um corpo violão)

‘bout that bass, no treble (Um corpo violão, não um tipo flauta)

I’m all ‘bout that bass, ‘bout that bass, no treble (Sou mais um corpo violão, um corpo violão, não tipo flauta)

I’m all ‘bout that bass, ‘bout that bass, no treble (Sou mais um corpo violão, um corpo violão, não tipo flauta)

I’m all ‘bout that bass, ‘bout that bass (Sou mais um corpo violão, um corpo violão)

 

Yeah it’s pretty clear, I ain’t no size two (Sim, está muito claro, eu não uso 38)

But I can shake it, shake it like I’m supposed to do (Mas posso rebolar, rebolar, rebolar, como devo fazer)

Cause I got that boom boom that all the boys chase (Pois tenho aquela performance que os meninos procuram)

All the right junk in all the right places (Todas as gostosuras nos lugares certos)

I see the magazines working that Photoshop (Eu vejo as revistas abusando daquele Photoshop)

We know that shit ain’t real (Sabemos que essa porcaria é uma ilusão)

Come on now, make it stop (Fala sério, faça isso parar)

If you got beauty beauty just raise ‘em up (Se você tem beleza, beleza, eleve-a)

Cause every inch of you is perfect (Pois cada pedacinho de você é perfeito)

From the bottom to the top (Lá de baixo até o topo)

Yeah, my momma she told me don’t worry about your size (É, minha mãe me disse “não se preocupe com seu peso”)

She says, boys they like a little more booty to hold at night (Ela diz “meninos gostam de ter o que apertar à noite”)

You know I won’t be no stick-figure, silicone Barbie doll (Você sabe que não vou ser uma vara pau, Barbie siliconada)

So, if that’s what’s you’re into (Então, se é isso que você prefere)

Then go ahead and move along (Saia daqui e parta para outra)

 

Because you know I’m all about that bass (Pois você sabe, eu sou mais um corpo violão)

‘bout that bass, no treble (Um corpo violão, não um tipo flauta)

I’m all ‘bout that bass, ‘bout that bass, no treble (Sou mais um corpo violão, um corpo violão, não tipo flauta)

I’m all ‘bout that bass, ‘bout that bass, no treble (Sou mais um corpo violão, um corpo violão, não tipo flauta)

I’m all ‘bout that bass, ‘bout that bass (Sou mais um corpo violão, um corpo violão)

 

I’m bringing booty back (Estou trazendo as bundas de volta)

Go ahead and tell them skinny bitches Hey (Vá e diga a essas vadias magrelas ‘e aí’)

No, I’m just playing I know you think you’re fat (Não, estou brincando, sei que você se acha gorda)

But I’m here to tell you that (Mas estou aqui para te dizer que)

Every inch of you is perfect from the bottom to the top (Cada pedacinho de você é perfeito, lá de baixo até o topo)

Yeah, my momma she told me don’t worry about your size (É, minha mãe me disse “não se preocupe com seu peso”)

She says, boys they like a little more booty to hold at night (Ela diz “meninos gostam de ter o que apertar à noite”)

You know I won’t be no stick-figure, silicone Barbie doll (Você sabe que não vou ser uma vara pau, Barbie siliconada)

So, if that’s what’s you’re into (Então, se é isso que você prefere)

Then go ahead and move along (Saia daqui e parta para outra)

 

Because you know I’m all about that bass (Porque você sabe, eu sou mais um corpo violão)

‘bout that bass, no treble (Um corpo violão, não um tipo flauta)

I’m all ‘bout that bass, ‘bout that bass, no treble (Sou mais um corpo violão, um corpo violão, não tipo flauta)

I’m all ‘bout that bass, ‘bout that bass, no treble (Sou mais um corpo violão, um corpo violão, não tipo flauta)

I’m all ‘bout that bass, ‘bout that bass (Sou mais um corpo violão, um corpo violão)

 

 Por hoje é isso, mas me conta aí nos comentários o que você achou da música! (Sem contar o clipe foooofoooo!) 

 

HUA HUA

BJÓN

Confissões de uma mulher normal

Eu já fui obcecada por peso. Já fui tão obcecada que sentia meu estômago se desdobrando de fome dentro da minha barriga, abria a porta da geladeira e a única coisa que conseguia fazer era chorar. Não, nem um Polenguinho. Nenhum alimento era pouco o suficiente para o tanto que eu precisava emagrecer. Eu usava 36 – hoje visto 50. Não sei bem ao certo onde eu queria chegar. Só sabia que não era ali, era mais. Eu queria ser mais magra. Achava que a numeração das calças estava errada, que não era possível ser gorda daquele jeito e já vestir 36. Sim, eram as calças que estavam erradas, porque eu me via no espelho muito gorda. Pra piorar eu não ia ao banheiro. Eu não comia quase nada, mas queria que o pouco que comia saísse logo. Uma amiga recomendou um remedinho natural, “vende na farmácia sem prescrição, você toma e dentro de 6 horas vai ao banheiro”. Eu tomava um a cada 6 horas. Quando o remedinho começou a ter efeito rebote, achei melhor começar a vomitar. Contava 10 grãos de arroz, tomava um litro de água e saía da mesa com a desculpa que precisava ir fazer xixi. E vomitava.

Eu vomitava e chorava – de fome, de tristeza, de solidão. É muito solitário viver a prisão do seu corpo. É muito triste não conseguir pensar em mais nada além de emagrecer.

 

 

Fiquei encarcerada durante mais ou menos 1 ano. Foi o tempo que tomei o Roacutan, remédio para espinhas que tem a pior bula de efeitos colaterais de todos, entre eles distúrbios alimentares, depressão, desejo suicida. E eu tive todos os efeitos colaterais. Depois que parei o remédio, minha vida foi voltando ao normal. Mas claro, o desejo de ser magra está cravado na gente desde criança, o remédio potencializou, mas parar com ele não fez desaparecer toda a pressão que eu sofria para ter o corpo perfeito. Eu achava que não era perfeita. Eu achava que precisava ser…

Foi só 4 anos e 20 sessões de terapia depois que eu consegui tocar nesse assunto (e ainda hoje, 10 anos depois, quando falo meu olho se enche de lágrimas). Foi muita dor. Dor não é só o que a gente sente quando corta o dedo ou quando opera a vesícula. A pior dor que a gente sente é da tortura mental, que te mata por dentro.

Dona Vera, minha terapeuta, com suas sobrancelhas arqueadas, me perguntava:

– “quem liga para como é o seu corpo? Se é gordo ou magro?”

– “os outros”

– “mas quem são os outros?”

– “todas as outras pessoas!”

– “e como essas pessoas influenciam no curso que leva a sua vida?”

–  ………

– “então por que você se importa tanto com o que elas acham de você?”

– ……….

– “já parou para pensar, que você está deixando sua vida ser levada pela opinião de pessoas que não influenciam em nada nela? Já pensou que você está anulando sua personalidade para isso?”

 

Dona Vera me deu um estalo que eu estava precisando. Eu precisava desse “clic” para conseguir analisar de fora como tinha sido horrível aquilo pelo que eu passei. Como eu tinha maltratado o meu corpo, a minha mente e a minha vida em busca de aprovação. E era isso mesmo que eu queria: aprovação. Eu queria que minha mãe não achasse defeitos em mim, que os meninos do colégio quisessem me namorar, me exibir, eu queria ser irretocável. Eu queria negar tudo que fizesse de mim quem eu era, para simplesmente virar um objeto de exposição. Mal sabia eu que só fica em exposição o que já está morto.

Eu costumo dizer que foi a faculdade que me fez enxergar a beleza que cada pessoa tem, cada uma a seu modo. Mas acho que quem realmente me fez enxergar isso foi eu mesma. Uma vez que eu entendi que cada pessoa é única e o que torna uma pessoa o que ela é seu conjunto de qualidades e defeitos, passei a admirar cada pessoa como um quebra-cabeça. Todas as peças são necessárias para montar um lindo quadro no final. E não dá para simplesmente tirar umas pecinhas de um quebra-cabeça só porque ele tem 500 peças – da mesma forma que não dá para tirar uns quilinhos só porque alguém tem de sobra.

As pessoas são diferentes e isso é bom. Cada pessoa gosta de uma coisa e isso é muito bom. Eu aprendi a descobrir do que eu realmente gostava. Descobri quem era a Juliana, o que ela tinha prazer em comer, em beber, em conversar, em ouvir, em usar, em escrever… Eu conheci uma pessoa incrível: eu mesma. E passei a amar tudo que essa pessoa fazia, passei a apreciar cada momento com ela e a dar valor aos pequenos prazeres que ela me proporcionava. E nunca mais quis brigar com ela. Só cuidar, com carinho, para que ela durasse muitos anos.

Hoje falo de boca cheia que sou uma gorda saudável e prefiro assim. Acho engraçado alguém falar “impossível alguém não querer emagrecer”. Eu já fui magra e já fui gorda. Escolhi ser assim. Eu não quero emagrecer, estou assim por opção, obrigada. Eu nunca mais quis ser diferente do que eu sou. Sim, eu quero que amanhã eu sempre seja uma versão melhorada de hoje, mas que para isso eu não tenha que sacrificar as minhas horas de alegria e nem o meu prazer de viver. Que para isso, eu não tenha que derramar lágrimas toda vez que me vejo no espelho. Eu sou assim, gordinha, com a mente muito mais rápida que o metabolismo.

Eu já disse e levo isso como mantra na minha vida: a minha aparência é tão pouco e tão pequena perto da mulher incrível que eu posso ser. Pra quê perder a vida tentando transformar a minha aprência, enquanto eu posso crescer de tantas outras formas? Enquanto o que está por dentro pode ser tão mais lindo e gerar muito mais frutos do que o que vem por fora?

O tempo passa, a gente envelhece, os padrões mudam, as pessoas vão e vêm. A única coisa que você consegue salvar é o que você cultivou de dentro para fora.

 

Confesso que já fui obcecada por peso e isso não me levou a lugar algum. Hoje sou apaixonada pela vida e vou para onde quiser (e isso inclui a academia, se me der vontade).

 

 

Obs: demorei mais de 4 anos para compartilhar essa história no blog, mas senti que era a hora de fazer o “Confissões de uma mulher normal” depois de um comentário infeliz de um rapaz que dizia “quero ajudar as meninas a se livrarem do martírio que é ser gordinha”. Eu digo que martírio é viver em função do seu corpo, gordo, magro, alto baixo, musculoso ou raquítico. Martírio é viver em função de futilidades. Ser quem você é não é um peso, é uma libertação!

 

 Obs 2: antes que alguém fale alguma coisa, eu cuido do meu corpo, da minha alimentação e do meu bem-estar. Só não deixo que isso tome conta da minha vida e de todas as minhas experiências!

 

 

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