Cara amiga gorda, você que acompanha esse e tantos outros blogs, se você ainda não viu a campanha da C&A, já aviso: NÃO SE ABALE. O que você vai ver é uma campanha de marketing mal feita, que tenta se apropriar da nossa luta para reafirmar ainda mais os padrões estéticos de magreza.
A modelo escolhida é a Malu, que veste 44/46 no máximo, ela é linda e talentosa, mas não é gorda e também não acredito que ela passe por um décimo das dificuldades e preconceitos que as gordas passam no dia a dia – como por exemplo tentar achar uma peça que sirva dentro de lojas de departamento, pra dizer o mínimo. Se o objetivo da campanha é mostrar que a indústria esteve errada por tanto tempo e que SIM a gorda pode ser sexy, por que raios a campanha resolve representar a gorda com uma mulher que NÃO é gorda?!?!
O problema de uma campanha mentirosa – não nas palavras, mas na imagem – é que ela reafirma para todas as mulheres que AQUILO é o aceitável de ser gorda. Quer dizer então que ser magra é só se você vestir 38? Qualquer coisa acima do corpo de uma modelo de passarela, já pode ser considerada gorda?! OI?!?! Na verdade, o bonito pra gorda é na verdade ser magra… DE NOVO, GENTE?! Quando vamos parar? Onde vamos parar?
Eu te digo: vamos parar em um monte de jovens com distúrbios alimentares. Vamos parar com um monte de mulheres infelizes com seus corpos, se submetendo a situações perigosas para mudarem o que veem no espelho. Vamos parar com um monte de mulheres traumatizadas se esgoelando na academia para serem uma gorda como a Malu OU para deixarem de ser gordas como a Malu e tentarem se encaixar em um padrão de magreza CADA VEZ MAIS MAGRO.
A Malu é linda, gente, mas ela não é gorda. E levar as mulheres a acreditarem que ela é só dá resultados ruins. Para as mulheres que não se aceitam e querem ser magras, faz com que esse objetivo fique ainda mais longe e ainda mais inatingível. Como ainda tem gente (muita, infelizmente) que considera gorda pejorativo, imagine o que pensam essas mulheres ao ver uma modelo como a Malu, que é só curvilínea, estampando a palavra gorda? Já estive no lugar dessas mulheres, quando eu era mais nova eu queria ser magra como a Malu, ter pernas finas e esquias, barriga sequinha, peitões. Aparentemente, seguindo essa campanha, eu nem sei onde eu iria parar, porque se a Malu é classificada como gorda, o que eu teria feito para ficar magra?! Reflita!
Para as mulheres que são gordas, faz com que a gente se sinta fora do nosso próprio segmento. Como se tudo aquilo que tem a ver com a nossa realidade – gordurinhas saltando para fora do jeans, culotes, celulite, gordura interna da coxa – ainda fosse algo realmente feio para se mostrar e, portanto, devesse ser substituído pela imagem mais magra de uma gorda que eles puderam achar.
Mais uma vez: eu não teria problema algum em ver a Malu estrelando a campanha de uma marca como a C&A, acho ótimo que as curvilíneas tenham seus lugares e torço para que a gente tenha uma diversidade maior de modelos mesmo! Mas já que é pra ser uma campanha cheia de representatividade, por que não colocam a Malu como curvilínea e uma modelo maior, como a Mayara Russi, por exemplo, como gorda?
Ai, ai… A indústria da moda as vezes é tão cansativa. Se por um lado cada dia vejo mais inclusão, por outro vejo marcas e agências de publicidade tentando pegar carona nas lutas como um jeito de lucrar. Veja, eu não teria problemas com o lucro, contanto que finalmente a indústria fizesse com que cada garota se sentisse parte dela, mas a questão é que alguns closes erradíssimos só fazem com que nós, as margens da sociedade (gordas, negras, gays, trans, etc), nos sintamos ainda mais ERRADAS, como se até mesmo dentro da nossa própria causa, tivéssemos que mudar e nos encaixar dentro de um padrão.
Que vergonha! Que vergonha de ver uma marca se apropriar do nosso discurso de liberdade, do nosso discurso de aceitação, das nossas palavras de incentivo diário, para continuar a martelar nas cabeças das mulheres VELHOS E ULTRAPASSADOS padrões de beleza.
Eu me sinto ultrajada e enganada. Não se engane: subjetivamente essa propaganda apesar da modelo plus size, não tem NADA de inclusiva e realmente só ajuda a reafirmar os padrões de magreza, mas fica a dica, segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor:
[blockquote author=”Idec, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor” ]De acordo com o artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), a ideia da publicidade abusiva está ligada à valores morais e atuais acontecimentos da sociedade. Em geral, é a publicidade que contém objetiva ou subjetivamente um discurso discriminatório ou preconceituoso. [/blockquote]
Bom, nem sei mais o que dizer sobre isso, mas como a blogueira Kalli Fonseca, do Beleza Sem Tamanho, falou: “nem precisamos pensar em boicote já que a marca já boicota as gordas, não tendo nada que nos sirva nas araras”… Isso porque não é a primeira vez que a C&A dá mancada com as gordas (relembre a campanha da Preta Gil aqui), vamos colocar uma gorda empoderada na equipe de marketing, vamos?!
Infelizmente, é isso
BJÓN